Onde estás, Amarildo?
— Cadê você, Amarildo?
— Amarildo! — Você é pobre?
— Amarildo! — Você é preto?
— Amarildo! — Você é pobre e preto?
— Amarildo! — Você é parte de nós e parte deste povo que é massacrado por este governo imundo, todos os dias e por todas as horas. Massacrado por este liberalismo nojento e por esta burguesia fétida.
— Amarildo! — Sabemos que você se foi! — Nossos corações já nos contaram! — Sabemos que as mãos sujas do Estado, por seus representantes malditos, lhe calaram a voz. Esta voz (esta nossa voz), que lhe foi garantida pela Constituição da República Federativa do Brasil em seu Art. 5°. Mas, lhe foi arrancada com violência e desrespeito, como está sendo arrancado de todos nós, a dignidade. Arrancada diante de nossos olhos perplexos, sem que façamos nada.
— Amarildo! — Cada um de nós morre um pouco com você. Cada um de nós morre e se sente torturado pela sua ausência. Cada um de nós se indigna com este governo corrupto e sorrateiro que rouba e maltrata nossos pares, nossos pais, nossos filhos.
— Amarildo! — Eu também me chamo Amarildo, meus filhos e pais se chamam Amarildo. Meus amigos e vizinhos se chamam Amarildo. Cada brasileiro que sofre se chama Amarildo.
— Saiba meu irmão. Gritaremos seu nome nas nossas caminhadas. Gritaremos justiça pelo seu silêncio. Gritaremos liberdade para suas palavras. Pois elas vão ser inspiração para a nossa esperança.
Todos nós sabemos que apenas os “pobres e pretos, ou quase pretos de tão pobres” é que povoam e se somam nas prisões e cadeias por este Brasil afora. Este Brasil que se diz democrático e prega liberdade. Este Brasil com cara de justiça, mas, que nos bastidores, nas sombras da verdade, conspira e corrompe toda ordem e progresso. E então, limpam a sujeira com a bandeira de nossa pátria e escondem seus dejetos nas páginas de suas leis.