Dor de cabeça, por 20 centavos.

Por Fabiano Sousa

“Caídas, pisoteadas, umas sobre as outras. Enroscadas em faixas e placas de protesto, curiosamente, proclamando “Paz, Igualdade, União e Liberdade...” Eu era só mais um, passava atordoado entre a multidão amontoada, apontando minha arma, sobre o empurra, empurra, o sangue esparramado, à escorrer ao meio fio do asfalto, na cidade parcialmente destruída, as lentes bifocais de uma máquina fotográfica Canon, apresentando lojas saqueadas, monumentos e muros pixados por letras garrafais pedindo “Ordem e Progresso”, “Proibido Proibir”, “Fascistas” e “Justiça aos Assassinos.” Tensão... Ouviam-se gritos de socorro, choros e desespero, que ecoavam, desta vez, ao Vale do Anhangabaú. “Click, click, click”, pessoas em volta sem saber pra onde fugir, giravam como baratas tontas, prontas para o abate. Enquanto outras, aos brados de guerra e fúria, seguiam a diante, à articular e enfrentar uma batalha árdua, a última - vida ou morte - armados até os dentes com coquetéis molotov, pedras, paus, ferros e armas de fogo que vez por outra disparavam em único rumo. Bárbaros tombavam e incendiavam automóveis civis e militares, iluminando a tarde que começava a cair, assustando o sol, que cruzava o céu para traz dos prédios e a lua apavorada insistia a se esconder... Sob o foco da lente via-se latidos de cachorros loucos, as centenas de ferraduras que arranhavam o asfalto já desgastado, o compasso dos coturnos e ao som agudo dos cassetetes gastos, aquecendo seus escudos dilapidados, em nossa direção. Revidando com bombas de lacrimogêneo, tiros de borracha, jatos de água e areia, arremessados dos novos veículos da frota bélica, “O Brucutu e Tatu”, que indicavam ainda mais o clima de conflito, medo e um duelo ao cenário de fundo, o centro, em sucessivas cargas sobre o aglomerado de estudantes, trabalhadores e cidadãos comuns, reivindicando simplesmente seus direitos assegurados na Constituição.

- Eles nos viram...

- Corre...

Onde olhávamos, víamos os homens fardados...”

A_ Seja bem vinda Presidenta, vestindo uma magnifica farda vermelha. Que coturnos bem engraxados hein, só cuidado com o joanete para não ficar dolorido.

A_ Olá blogueiras e blogueiros, companheiros de guerrilha, junte-se a nós em mais um debate, um assunto um tanto delicado, para nossa dama de vermelho, que se emociona cada vez que se recorda.

A_ Nos imprescindíveis comentários, nosso Assessor de Assuntos Aleatórios da Liberdade de Expressão, famoso também como AAALE, “Joaquim Babosa”. Boa tarde, o que são estes ferimentos?

C_ Estava eu, fazendo meu papel de cidadão e veja o que os milicos fizeram. Cadê a LIBERDADE DE EXPRESSÃO, “porra”.

A_ As últimas semanas, não estão muito fáceis, nota que nem estou ponderando a porcentagem maior de desemprego, alta dos juros, queda na Bovespa. Iniciamos o debate com um trecho do livro de codinome “Memórias de uma ditadura”, do meu amigo jornalista Fabiano Sousa. Estes olhos vermelhos e inchados indica que a levou ao túnel do tempo, voltando ao passado amargo e terrível, que conviveu nas décadas de 70 e 80, porém, vamos discutir um assunto atual paulistano, e que começa se tornar Nacional.

C_ A minha cabeça está inchada.

A_ Hoje em São Paulo, num estúdio ao ar livre, mais precisamente na Avenida Paulista, na famosa Praça do Ciclista, onde vem ocorrendo os principais confrontos entre os manifestantes do Movimento Passe Livre, que pedem a redução do aumento de 20 centavos no transporte público ocorrido no início do mês de junho e a forte repressão acendida pela tropa de choque da policia militar.

C_ Transporte estes, não se dá um mínimo de dignidade ao usuário, utilizam dos ônibus envelhecidos, lotados, desestruturados, sem qualidade, motoristas despreparados. O transporte ferroviário sucateado, visando somente os lucros das empresas, não é mesmo companheiros.

A_ Vinte centavos, parece pouco, muitos não dão importância, mas está causando uma dor de cabeça danada, aliás, o que me diz Presidente, o jovem de hoje está sabendo protestar ou são anarquistas, inconsequentes. A Senhora, pelo seu histórico de luta, é a favor ou contra?

A_ Sei que vemos abusos, no meio de da maioria, alguns anarquista, brincando de autocracia, contudo, o assunto é extremamente sério, passou dá hora do jovem voltar mostrar importância à algumas coisas que estavam esquecidas, deixar de lado o vídeo game, as novelas, o futebol na televisão e usar a tecnologia, computadores, os celulares, as redes sociais, para realmente se comunicar, se informar, protestar, ainda que seja por vinte centavos.

C_ “Presida”, a senhora conversou com o ex. presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que foi um dos principais sindicalistas e por tudo que lutou e viveu, alcançando o maior cargo político deste país. Também se reuniu com o ex. chefe da Casa Civil, José Dirceu, este um famoso anarquista, articulador, envolvido em sequestros, atentado. Anseio que estejam a favor do movimento, sim.

A_ Muito boas palavras, “Joaquim Babosa”, almejo que realmente se manifestem, não fujam das suas origens políticas, por acaso um pouco esquecidas também por eles, de alento a nova juventude e que convoquem o Prefeito da cidade de São Paulo, do mesmo partido político e exijam o recuo dos comandantes da policia, para um protesto saudável e menos violento.

A_ Não voltaremos aos duros tempo e intensos de uma nova ditadura, não é mesmo Presidenta?

C_ Deixem o povo protestar!

A: Apresentador

C: Comentarista (Joaquim Babosa)

P: Público

Fabiano Sousa
Enviado por Fabiano Sousa em 15/06/2013
Reeditado em 19/06/2013
Código do texto: T4343490
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