Mensalada
Fica difícil a maioria do povo brasileiro acreditar que alguns dos políticos que têm dirigido ou dirigem os destinos da nação estejam eventualmente envolvidos com “lavagem de dinheiro e formação de quadrilha”. Porque estão essas pessoas mais ocupadas em arranjar dinheiro para pagar o seu aluguel, comprar remédios ou adquirir os gêneros de que necessitam para continuarem vivos ou não adoecerem.
Uma parte menor da população, contudo, pode chegar a esse tipo de conclusão. São os que dispõem de TV, sabem ler e escrever e podem comprar, além de comida, jornais ou livros especializados em ações tipo Mensalão. Tais pessoas mais uma vez se sentirão decepcionadas com a classe política ou com nossos governantes, por se confrontarem com um perfil que se repete há pelo menos 50 anos.
Reunindo-se para “práticas criminosas” ou “para o atendimento de vantagens específicas”, não era bem o que se podia esperar daqueles que contaram com a confiança do povo para o atendimento, quando eleitos, das necessidades básicas da população.
Há os que acreditam que políticos e governantes, nada mais sendo que pessoas oriundas do povo, refletem o erro desse mesmo povo em tê-los escolhido para a sua representação através de um mandato eletivo. Ocorre que “ao político eleito caberia mais cuidados éticos que ao cidadão comum, pois aquele está cuidando da coisa de todos’”, no dizer de uma ministra do Supremo Tribunal Federal. Que acrescenta que “um prejuízo no espaço político, principalmente de corrupção, significa não que alguém foi furtado de alguma coisa, mas que uma sociedade inteira foi furtada”.
São posicionamentos ou colocações irrefutáveis. Mas às quais só têm acesso, como dissemos, “os que calçam mais de 40”, isto é, os que comem normalmente, sabem ler e escrever, podem adquirir jornais, determinados livros, etc. O resto da população, que não dispõe desse sofisticado nível de vida, não toma conhecimento, pelo menos imediato, dessas nuances da política brasileira.
E é certamente com base nesse fato que o nosso quadro político-partidário tem se apresentado sempre disponível ao “desfile de falcatruas envolvendo as mais diversas legendas”, de que o julgamento do Mensalão é apenas o cenário de maior contemporaneidade.
Rio, 23/04/2013