Linhas Paralelas
“O PT não inventou a corrupção, mas elevou-a a um nível de sofisticação tal que colocou em risco a democracia quando transformou o esquema criminoso em política de governo” (in Mensalão, O Dia a Dia do Mais Importante..., pg. 21, livro de Merval Pereira).
Leio isso e me lembro do depoimento de, pelo menos, duas pessoas das camadas pobres do povo. Uma da Região dos Lagos e outra de Caxias, Baixada Fluminense, segundo as quais a vida para elas teria melhorado com o Lula. Porque agora podiam adquirir televisores, DVDs, geladeiras, fogões, máquinas de lavar, etc., tudo com mais facilidade. Do que seria viável a conclusão de que o poder aquisitivo da população de baixa renda teria aumentado.
Mas a que custo? Ao custo de uma corrupção que, embora nunca tenha deixado de existir, alcançou no governo do PT níveis bem próximos da institucionalização.
Então, que sejam louvados os melhores níveis de vida, sobretudo para a população mais sofrida. Mas não podemos fechar os olhos para procedimentos contrários aos ideais democráticos e lesivos ao dinheiro da nação, em grande parte resultado do esforço e do trabalho exatamente produzido pelos mais pobres.
Na vigência da ditadura militar, durante a gestão na Fazenda do ministro Delfim Netto, falou-se muito no “Milagre Econômico”. O Brasil teria alcançado patamares mais elevados de desenvolvimento, embora os reflexos desse sucesso não pudessem ser repassados aos menos favorecidos, cujo irrisório poder aquisitivo continuou o mesmo.
No entanto, o propalado aumento da taxa de crescimento brasileiro à época foi a que custo? Ao custo de centenas de cidadãos sendo presos, sequestrados, torturados e assassinados nos porões da ditadura por professarem ideias contrárias ao regime, representado pelos que se estabeleceram no poder através de um golpe militar.
E no caso da ditadura, que alguns preferem chamar agora de civil-militar, apesar dos índices de desenvolvimento favoráveis, não houve alteração nos níveis de pobreza da população menos favorecida. As dificuldades dos mais pobres continuaram as mesmas.
O que não quer dizer que agora devamos fechar os olhos à escalada de corrupção progressivamente acentuada a partir dos governos do PT só porque a vida melhorou para os mais pobres.
É preciso que o cidadão de bem esteja alerta, desde que o reconheça, para este tipo de paralelismo. De modo a não se sentir estimulado a abonar um período em que teriam sido maiores os números do desenvolvimento do nosso país, à custa da falta de liberdade e garantias democráticas do seu povo; ou a comemorar o aumento do poder aquisitivo dos mais pobres, tendo de fazer vista grossa aos desmandos de uma corrupção nociva ao estado brasileiro e disseminada até entres setores do próprio governo federal.
Maricá, 28/03/2013