Notícias da Venezuela 2
Parte 2 (final)
Chávez se considera um revolucionário no sentido do que expressou Che Guevara, para quem o revolucionário é o escalão mais alto da espécie humana.
Faz menção à União das Repúblicas Sul-Americanas como um projeto dos maiores líderes libertadores da América do Sul, tendo em vista o fracasso da proposta de integração neoliberal estabelecida pelo Consenso de Washington. Tornando-se necessário, portanto, um novo modelo de integração – a ALBA (Alternativa Bolivariana para a América Latina) – que compreenderia a Petrosul, a Telesul, o Banco do Sul, etc., verdadeiras linhas de integração para a América Latina.
Acusado de ser exportador para a América Latina do bolivarianismo, assim como Fidel é o do comunismo, Chávez responde perguntando por que não acusam os EUA de exportarem o seu modelo através da força das armas, como se deu no Panamá, El Salvador, Nicarágua, Guatemala, Chile, etc.
Chávez relata que depois de ter contribuído para a libertação do Peru e para a fundação da Bolívia, Simón Bolívar volta à Venezuela e de lá é expulso. Como resultado de uma reação violenta da oligarquia venezuelana que se apossou do país.
Destaca a paulatina aproximação do Paraguai com o Departamento de Defesa dos EUA. Para Chávez, pelo interesse americano na tríplice fronteira, para eles um santuário de militantes palestinos, mas também pela localização na região do aquífero guarani, a maior concentração de água do continente latino-americano. A pesada ofensiva americana fazendo-se sentir também na Guiana, na Colômbia (o Plano Patriota), no Equador, sempre acompanhada de aumento no orçamento para a ajuda militar.
Reforça Chávez a ideia de que os EUA procuram satanizar um povo ou um país para poderem justificar qualquer tipo de investida, inclusive bélica, contra esse país. Estando incluído até o magnicídio, que é o assassinato de presidentes. (O próprio Senado americano reconhece as inúmeras tentativas de assassinato de que Fidel Castro foi vítima.) A satanização sempre assumindo o caráter midiático. De fato, é devida aos EUA a criação do “Eixo do Mal”, com intensa veiculação na imprensa ocidental, reunindo países potencialmente inimigos, por não se alinharem incondicionalmente aos interesses americanos.
Parecendo não conter sua emoção nesse trecho de sua apresentação, Chávez assinala que “a Venezuela nunca será uma colônia dos EUA”, citando Evita Péron: “Ou a pátria é livre ou a bandeira tremulará sobre suas ruínas”.
Observa que, dando curso a um verdadeiro terrorismo midiático, os canais de TV venezuelanos, quase todos da iniciativa privada, apoiaram e insuflaram a sua deposição do governo, estimulando o confronto entre as forças governistas e as massas populares. Sempre com o apoio americano. O governo os tirou do ar, o que certamente motivou na imprensa ocidental a ideia de que não havia na Venezuela liberdade de expressão. No entanto, através de uma conexão por satélites, facilitada pela ajuda americana, os canais de TV continuaram operando. Conseguiram, depois, isso sim, tirar do ar o canal do Estado para que o presidente não pudesse falar.
Alega que, após ter sido preso, a imprensa anunciou que Chávez teria renunciado. O que era uma grande mentira, pois já tinha repetido que, mesmo sob o risco de ser morto, ele jamais renunciaria, por estar sendo vítima de um golpe de estado.
Chávez entende que foi imposta à América latina uma doutrina prussiana, afastada das raízes populares. Estipula em 500 milhões de dólares as despesas militares do exército dos EUA. E admite que a Venezuela também esteja se armando, porém através de uma união cívico-militar. Considera que, em muitos casos, é válida a afirmativa: “se queres a paz, prepara-te para a guerra”.
OTAN – Organização do Tratado do Atlântico Norte. Lembra a necessidade de um mundo mais equilibrado. Se existe a OTAN, por que não existir também a OTAS – Organização do Tratado do Atlântico Sul? Para que não se fique dependendo apenas do Pentágono ou do Departamento de Estado americano.
Esclarece que os grandes ditadores da América Latina, assim como muitos de seus militares, foram preparados no Pentágono. E que a CIA (Agência Central de Inteligência) ainda está presente em boa parte da oficialidade latino-americana.
Aponta como pretensão do governo conseguir que o território venezuelano esteja totalmente livre do analfabetismo. Tendo sido nesse sentido estabelecida a Missão Robinson. Em sete semanas 30 mil venezuelanos aprenderam a ler e a escrever pelo método cubano, com o auxílio de aparelhos de TV, vídeos e folhetos. Em um ano e meio, 1,5 milhão de venezuelanos aprenderam a ler e a escrever, acabando-se com um flagelo de 200 anos. Foram entregues diplomas a homens de 90 anos e a mulheres de 80, como parte da ação social de justiça e igualdade.
Informa também que 17 milhões de pessoas têm atendimento médico e remédios gratuitos na Venezuela. E que o país dispõe de um sistema de distribuição de alimentos para 15 milhões de pessoas. Que o salário é aumentado todos os anos acima da inflação.
No que corresponde à saúde, Chávez anuncia que existem cerca de 18 mil médicos cubanos trabalhando dentro das favelas de Caracas. E que a intenção dos dois governos, venezuelano e cubano, é a formação de 200 mil médicos entre 2005 e 2015. Médicos para o povo, médicos sociais. Dentro de um projeto revolucionário de justiça pública.
Para Chávez nenhum país é repetível. Porque nenhum modelo é repetível. O socialismo russo, o chinês, o cubano e o venezuelano têm as suas peculiaridades e não poderão ser repetidos.
Assegura que a Venezuela foi colônia petrolífera americana até 2002. E que, de US$ 30 em 1974, o barril de petróleo atingiu o valor de US$ 100 hoje.
Perguntado se temia a morte ou se teria medo de dela falar, Chávez responde que não temia a morte, mas que não se deve falar muito dela, valendo-se para esse raciocínio da citação em latim “Abyssus abyssum vocat” (O abismo chama o abismo).
Critica o outorga do Prêmio Nobel da Paz ao presidente dos EUA quase que no mesmo dia em que Barack Obama determinou o envio de 30 mil soldados americanos ao Afeganistão para confronto com civis.
Dentre as várias citações feitas por Chávez, ele destaca a atribuída ao conceituado escritor e jornalista uruguaio Eduardo Galeano, segundo a qual “nós do Terceiro Mundo somos os países atropelados pelo trem da História”.
Define o capitalismo como um modelo de desenvolvimento destrutivo que está acabando com a vida no planeta e ameaça também acabar com a espécie humana. Posiciona-se contra o conservadorismo político e o egoísmo dos grandes consumidores dos países mais ricos, que denotam uma alta insensibilidade e falta de solidariedade com os mais pobres, com os mais famintos, com os mais vulneráveis aos desastres naturais.
Informa que a renda total dos 500 indivíduos mais ricos do mundo é superior à renda dos 416 milhões de pessoas mais pobres. Que os 2,8 bilhões de pessoas que vivem na pobreza, com menos de US$ 2 ao dia, e que representam 40% da população do planeta, detém apenas 5% da renda mundial. E atribui a causa deste desastroso panorama ao sistema metabólico e destrutivo do capital com o seu modelo encarnado – o capitalismo.
Os depoimentos aqui referidos constaram da participação do presidente Hugo Chávez na 15ª Conferência do Meio Ambiente, a CPO-15, realizada em Copenhagen, capital da Dinamarca, entre os dias 7 e 18 de dezembro de 2009.
Por oportuno, desejamos esclarecer que fazemos esses registros para verificarmos um dia se as pretensões de Hugo Chávez terão se confirmado ou se seus projetos se realizaram, na hipótese de ser mantido o rumo que a Venezuela tomou sob a sua presidência. Como também para o registro de informações que, estando devidamente documentadas, tornem-se inquestionáveis. Não podendo ser objeto de deturpações, visando o descrédito sem fundamentação de um regime que pleiteia o direito de ter como meta a justiça social.
Nesse aspecto, as posições pessoais do líder venezuelano, apesar de igualmente aqui registradas, têm importância secundária. Importam mesmo as realizações de seu governo, para que os críticos, quaisquer que sejam as suas observações, façam-nas sob a inequívoca constatação do que estiver documentado.
Maricá, 29/03/2013