A grande mentira
A grande mentira
Sobre isto eu já falei aqui e nos demais espaços onde escrevo: as realidades humanas sempre foram um misto de verdade e mentira, ética e farsa. A história da humanidade sempre foi narrada pela ótica hipócrita dos fortes, dos vencedores. Há fome em todos os quadrantes do mundo. Quando a grita geral se eleva muito, que fazem os países ditos desenvolvidos? Mandam copinhos de água mineral, frascos de medicamentos vencidos, garrafas de soro glicosado. E esses paliativos resolvem? Se as supersafras fossem de feijão, arroz, trigo, frutas, milho e mandioca, aí sim, o combate à fome estaria sendo tratado com seriedade. Mas isso não serve de moeda internacional...
Além disso, os poucos resíduos alimentares que ficam aqui, são irresponsavelmente estocados, tornados indisponíveis, apodrecendo em pouco tempo, enquanto tantos passam fome. Isso é um crime! Ao revés, apesar de largas extensões de terras, férteis, porém ociosas, o Brasil importa trigo, milho, feijão e arroz. Tudo para facilitar o mercado globalizado com outros países. É ou não uma grande mentira, todo esse artifício de notícias oficiais a respeito das supersafras?
Há em tudo essa distorção, uma ponderável questão de ética Toda a crise social do Brasil passa por uma terrível crise de ética na sociedade civil, na política, nos poderes públicos, executivo (que não faz nada), legislativo (que faz leis em favor de pequenos grupos) e do judiciário (que sempre se omite). A lei no Brasil é como as cobras: só morde quem está descalço. O cidadão insensível ou acomodado dirá que a fome ocorre porque o pobre é vagabundo, não gosta de trabalhar, porque tem muitos filhos. Essa de dizer que há oportunidades para todos é uma lenda que os acomodados criaram para justificar sua inércia e jogar tudo no status quo. Nunca esquecendo que as “revoluções” ou golpes-de-estado ocorridos no Brasil nunca visaram mudanças, mas, tão-somente, impedir reformas.
A fome, do jeito que se afigura, não se torna problema somente daqueles que a sofrem no estômago, mas de toda a sociedade que, fechando-se, elitizando-se, tornando-se insensível aos problemas de todos, cria essas terríveis distorções, capazes de gerar a intranquilidade e o desequilíbrio social.
Muitos passam fome porque quem tem alimento disponível e supérfluo é incapaz de repartir. Na impossibilidade de obter os bens pelas vias normais, os miseráveis buscam auferir alguma coisa, pelo estelionato, pela violência que vai desde um simples furto até o assalto, o tráfico de drogas ou o sequestro. A sobrevivência, o estado de necessidade, às vezes pode levar ao caminho da revolta, da violência e da marginalidade.
O autor é Filósofo, Escritor e Doutor em Teologia Moral.