“O Brasil não conhece o Brasil”
O Brasil que os brasileiros conhecem é um Brasil de safadeza e corrupção, de miséria e desonestidade, de preguiça e samba no pé, de imoralidade e pouca roupa. O Brasil que os brasileiros conhecem é o Brasil que desfaz a própria moral, é o Brasil que desfaz a própria história. O Brasil que os brasileiros conhecem se perdeu na ignorância e na falta de “vergonha na cara”, se perdeu no desrespeito ao próximo e à pátria.
Não há como esperar que uma terra embriagada por uma cultura de luxo e de lixo valorize as raízes e as revoluções históricas, que valorize o homem da cidade e o homem do campo, o negro e o pardo, o índio e o professor, o pobre e o oprimido. Não há que se esperar piedade e respeito de uma sociedade que se baseia nas aspirações do topo da pirâmide, que se fortalece com a desgraça dos desgraçados, com a miséria dos “deschinelados” e com a ignorância dos renegados.
Não há o que se esperar de um governo que governa para os ricos, que grita e esbraveja cóleras de falsidade, que espalma e dança como Hitler nos palanques, mas que se vendem e se ajoelham nos bastidores por migalhas de notórios malfeitores.
O que se esperar de uma terra maravilhosa cujos verdes estão vendidos para os lenhadores. O que se esperar de uma terra cheia de riquezas minerais, cujas pedras lapidadas enfeitam o colo de lindas damas pertencentes a uma burguesia egoísta e miserável. O que se esperar de uma terra de magníficas belezas naturais se as florestas estão cercadas por latifundiários. O que se esperar de um povo que adormeceu na estupidez da opressão e se nega a acordar para a lucidez da liberdade.
Não há como acordar este povo da ilusão da justiça, da ignorância televisiva, das mentiras cativas. Não há como acordar este povo deitado em um berço de preguiça, acomodados em bancos de estádios na única preocupação de ver seu time campeão. Não há como acordar um povo sem educação que pega o ônibus lotado e vai em pé até em casa angustiado com ideia de perder o capítulo da novela das oito. Não há como acordar um povo que adora ver elevadas em glamour e imoralidade a vida dos ricos e abastados dentro de uma televisão comprada a prestação que mal cabe nos dois cômodos onde se abrigam meia dúzia de crianças famintas e sem esperança.