E se... O voto não fosse obrigatório?
Soberania política e autonomia social no exercício do voto
A tentação é grande... Seus amigos querem saber o que você vai fazer no feriado, as agências de viagem anunciam pacotes para a data. E você pensa que, em pleno calor de 15 de novembro ou de 3 de outubro, um dia livre é mesmo um convite ao lazer. Afinal, com o fim do voto obrigatório, essas datas virariam simples feriados. Mas não é que, justo agora que acabou a obrigatoriedade de votar, a eleição parece mais interessante? Os temas da campanha são bem mais palpáveis, os problemas discutidos pelos candidatos se assemelham aos seus e tem até gente acenando com uma solução! “Será que eles, finalmente, descobriram que eu existo?, você está com o título de eleitor na mão, votando! Utopia? Coisa de país desenvolvido?
Vejo que a projeção de interesse da população para temáticas concernentes à política é de pequena inclinação. O fato de em época de eleições a mobilização das massas ser evidente, demonstra o controle que os meios de comunicação em massa exercem sobre a difusão de conceitos, propostas e discussões dos futuros representantes do país, estados e municípios, bastando apenas um desenvolvimento de consciência individual em face dessas temáticas, quando, por vezes, estas são tratadas de forma tendenciosa pela mídia.
Inverter o estado do voto obrigatório para facultativo implica em várias conseqüências de relativo teor preocupante para nação que podem acarretar reações indesejáveis, como também aplausíveis (dignas de aplausos) no contexto político-social, como será posteriormente exposto, criando um novo tipo de consciência política aderida por quem realmente tem interesse no assunto.
Não usufruir o direito de exercer cidadania, que nossa Constituição garante, bloqueia o acesso desse grupo na política, suprime seu direito de intervenção na discussão, aceitação, negação, ou decisão de determinados assuntos, projetos, pretensões para o futuro, que possam trazer algum tipo de prejuízo à nação e à comunidade onde os mesmos estão inclusos, por escolha própria.
Uma geração inconsciente de pessoas que oprimem seu direito de participação nas decisões do país é uma geração alienada, sem perspectivas, vontades, poder de decisão, que aceitam se subjugar a outras opiniões e sofrer as conseqüências da omissão de seu exercício do voto, transformando o dia destinado à eleição em mais um feriado.
Porém o direito de escolher os representantes do povo se contrasta com o não direito de escolher por opinar ou não, subjugando um país que se diz democrático à determinada obrigatoriedade, gerando um eleitorado, em parte, sem opiniões formadas, conscientemente responsável pelos efeitos de uma escolha imprudentemente pensada, despertando apenas o interesse da população que vota de forma consciente, reduzindo, portanto, de forma perceptível o volume de eleitores.
O fato de a população não ter o direito de escolher por opinar ou não pode ser considerado como um desrespeito contra o cidadão que vota consciente, uma ditadura ao que assim não procede e um atentado terrorista contra o sistema político do país: democracia. A transferência de responsabilidade para grupos de interesse na participação do progresso de sua nação é louvável, quando se fala em democracia sem hipocrisia e justiça sócio-política de um país que anseia o patamar de desenvolvido em todos os âmbitos.