Ficha limpa já!

FICHA LIMPA JÁ!

Depois de tantos fatos desabonadores e deslizes de algumas “autoridades”, eu evito comentar sobre política e serviço público, tamanha a indignação que me assalta. Mas um fato não é possível deixar passar, pois o político, inflete no terreno da cidadania e esta está ligada ao bem-estar do povo. Trata-se da questão da “ficha limpa”.

Para trabalhar em um banco ou dar aulas em uma universidade, a pessoa tem que ter uma ficha limpa. Se estiver no SPC não é admitido. O cara para conseguir um emprego de motorista de uma empresa ou vigilante particular tem que comprovar a inexistência de processos e fatos afins. E para o Congresso? E para as Assembléias, Câmaras, Governos Estaduais e Prefeituras? Sabem que não precisa comprovar nada? O pior é que os antecedentes revelam os conseqüentes.

O trágico é que muitos indivíduos não buscam a eleição para exercer um serviço cívico, pelo bem-comum, mas para “se arrumar”, entrar no “jabaculê”, fazendo acordos de campanha, conchavos e negociatas.

Na década de 90, um deputado federal nortista (com ficha suja) ficou famoso nacionalmente. Na época, ele esmurrou uma colega deputada em plena Câmara, porque ela o acusou de lenocínio e tráfico de cocaína. Ela (com uma vida pregressa diferente de Madre Tereza) foi cassada em 1994 pela CPI dos “anões do orçamento”. Esses dois, entre tantos, não podiam ter sido diplomados. Uma turma dessas, depois de eleita vai postular os interesses de quem?

O danoso é que depois de eleito, as im(p)unidades e o corporativismo existentes não deixam mais cassá-lo. O esprit de corps fala mais alto. A solidariedade das bancadas e a conivência dos partidos ajuda a trazer o descrédito sem precedentes que se abate sobre a política nacional.

Esperar pelo braço cego e sonolento da justiça não adianta. Os processos se arrastam por décadas, enquanto o pessoal da mão-ligeira vai avançando nas fichas. Eu não sei a que atribuir a morosidade do Judiciário em colocar a questão da “ficha limpa” em pratos igualmente limpos. Depois ninguém mais bota a mão nos relapsos, pois assumem todas as imunidades regimentais.

É preciso que se faça uma campanha de responsabilidade nacional pela obrigatoriedade imediata da “ficha limpa”. Se quem não tem antecedentes, já se corrompe nas campanhas, aceitando propinas, imóveis, carros, caixa 2, imaginem quem já é do ramo! Parece que o Judiciário não dá muita bola para a indignação nacional.

Filósofo, Escritor e Doutor em Teologia Moral