Portugal, FMI, um ex-presidente e um título de "doutor honoris causa"...

Portugal, FMI, um ex-presidente e um título de "doutor honoris causa"...

Manchete da Folha, de hoje: "Lula sugere que Portugal peça ajuda a Dilma para sair da crise."

Portugal está na pindaíba. Os fatores porque se encontra assim são vários, mas o fato é que a coisa já não ia bem e veio a crise financeira mundial que atingiu a Europa em cheio e, agora, o nível de desemprego está em 7%, o deficit das contas públicas só aumenta, o governo enfrenta uma pesada onda de greves, e a juventude portuguesa só pensar em emigrar do país. Numa hora dessas, recorrer ao FMI é mais que uma opção formal ou oportunista, é uma imposição ditada pelo bom senso.

Mas, de repente, entra um sujeito abelhudo nesse história, o ex-presidente do Brasil, Luiz Inácio da Silva. À à bordo da informação sobre a concessão de um título de "doutor honoris causa" por uma universidade portuguesa, ele discursou via imprensa ao país europeu como se falasse ao governo de país do terceiro mundo, dizendo espantosamente que o governo português deve evitar a recorrência ao FMI, preferindo em lugar disso, recorrer à presidente do Brasil, sua companheira de partido.

Disto, podemos tirar três conclusões sobre a "privilegiada" visão do ex-presidente brasileiro sobre a questão:

1. Mesmo quando aparenta boa vontade, ele destila agressividade e, acaba por demonstrar o que vai no recôndito de sua mente. Neste caso, porque lhe falta autoridade e competência para discutir sobre um assunto do governo e do povo português e, por outro lado, indica claramente que ele, apesar da experiência, ainda é capaz de lançar mão de um velho e infantil ramerrão da esquerda - o "fora FMI", apenas para se promover, a despeito da gravidade da situação envolvida;

2. A despeito do Brasil ser sócio fundador do Fundo Monetário Internacional - FMI, e o governo ter recorrido diversas vezes ao uso dos seus empréstimos a juros privilegiados em hora difíceis (causadas por falta de governança séria e de pé no chão), nosso ex-presidente, interpretando o governo português como um igual aos imorais governos que presidiu, acha que a solicitação de empréstimo ao FMI é inaceitável, em virtude das justas exigências apresentadas pela Entidade em relação ao controle dos gastos governamentais; e

3. Dizendo que o governo português deve preferir pedir socorro ao governo brasileiro em vez do FMI, das duas, uma: ou ele interpreta Portugal numa condição de estado inferior, semelhante a um estado federado "por afinidade" do Brasil, ou, pior, acha que o país está numa condição de desconfiança tal, que somente um governo amigo, paternalista e da mão aberta tem condição de socorrê-lo.

(Neste sentido, já temos vários precedentes, porque o governo brasileiro colocou o BNDS para financiar o deficit de investimento em infraestrutura de países governados por ditadores ladravazes ou sanguinários, iguais e Hugo Chaves e o irmão menos velho da gerontocracia que os Castro impõem sobre a ilha de Cuba). .

4. Quando diz que o governo de Portugal deve "falar com Dilma", o ex-presidente da república coloca a atual presidente da república numa condição de inferioridade e vinculação à sua pessoa - como se esta ainda fosse sua ministra de estado, eis usou os cotovelos para falar de assunto de assunto que, fora o caso, competiria ao governo brasileiro.

Lula está, por assim dizer, pegando o governo, a intelectualidade e as lideranças classistas portuguesaas pela mão, e os dispensando de pensar o seu problema, de enfrentar sua realidade, oferecendo-lhes uma solução muito rápida e fácil - usar de seus contatos privilegiados e falar com a companheira a "Dilma". Não é incrível?

Depois de longos e rumorosos oito anos de governo, Luiz Inácio da Silva - que chegou a Brasília trazendo a mudança em um caminhão, que se achava um gênio da raça, um Avatar ou a última coca cola gelada do deserto, deixou a cidade à bordo de 11 caminhões de mudança (um deles, com câmara frigorífica!) e, para seu desgosto, o mundo não acabou e ninguém chegou a prantear a sua falta.

Sua sucessora, a despeito de não abrir mão da forma petista de governar (isto é, menos eficiência + gastos públicos = companheirada empregada + PT aliados com franco acesso aos cofres da União e negócios privados - e o caso da Vale está aí, para comprovar tudo, noves fora as tentativas periódicas de ataque ao direito de livre expressão) preferiu um caminho menos polêmico, e vai fazendo o feijão-com-arroz do governar, o que já pode ser sentido pela reorientação da estúpida política externa adotada pelo primeiro - que só se confraternizava com ditadores, bandidos e párias.

Agora, o ex-presidente tenta se manter na ribalta. E por mais que diga disparates ou faça provocações gratuitas, ninguém de importância lhe dá a menor trela.

Mas, este não parece ser o caso dos portugueses. A Universidade de Coimbra resolveu lhe outorgar o título de "doutor honoris causa". Pensando no orgulhoso semi-alfabetismo, as especialidades e saberes que o ex-presidente exibiu por oito anos seguidos de governo, tento imaginar porque.

E concluo, então, que a concessão do tal título deve ser uma espécie nova de piada de português!