O GRANDE FIÃO
Manoel de Castro Arantes, conhecido desde menino por Fião (era Fii para a mãe, mas como sempre foi alto, para os colegas ficou Fião), é o que se pode chamar de homem realizado. Aos 63 anos, sempre foi uma pessoa de sonhar e realizar seus sonhos. Quando garoto alimentava dois sonhos: trabalhar em banco e ser dono de boiada. “Ia com meu pai ao banco e achava a coisa mais sofisticada do mundo os bancários, com suas camisas bem passadas e gravatas, decidi que queria ser assim”, conta. “Quando ia tocar gado, sempre tive na cabeça que bom mesmo era ser dono da boiada, colocar mil cabeças de gado na estrada e tocar”, revela, com saudosismo.
São dois sonhos realizados. No dia 16 de outubro de 1967, Fião começou a trabalhar no escritório de contabilidade de Manoel Antônio Dias. Com aptidão, aprendeu rápido o ofício, fato que dividia com os estudos e a atividade política estudantil. Às voltas com a ocupação com o grêmio estudantil e comissão de formaturas no Colégio José Carrilho, Fião achou por bem abandonar, após sete meses o escritório. Sob protestos do patrão, que o considerava um ótimo funcionário. Sete meses depois, retorna à contabilidade, porém no escritório rival ao do antigo patrão, o Labor, de Geraldo e Marcílio. Mas como era muito querido, com pouco tempo recebeu um convite inusitado: Manoel Antônio Dias ofereceu-lhe o escritório, estava disposto a vender para Fião seu negócio. “Eu não tenho condições de pagar, não tenho dinheiro”, teria dito Fião na oportunidade. Seu Manoel parcelou em suaves prestações e argumentou que ele pagaria com a própria renda do escritório. Como tinha boa visão de futuro, Fião aceitou o negócio e iniciava aí a sua escalada vitoriosa.
Em janeiro de 1969, um pouco antes de Fião comprar o escritório, viveu a experiência de realizar um dos seus sonhos de menino: virou bancário. Com camisa engomada e gravata, trabalhou no Bradesco. Pouco tempo de banco, já estava no caixa e revela com orgulho: “Nunca tive que pagar diferença, minhas contas sempre batiam corretamente”.
Saiu do banco um ano depois exatamente para ter seu próprio escritório de contabilidade, atividade que passou a nutrir verdadeira paixão. Entre uma coisa e outra, acabou se filiando à Arena e participar de reuniões políticas. Contra sua vontade, foi inscrito na chapa de candidatos a vereador em 1972. Uma vez registrada a candidatura, Fião não titubeou e foi à luta. Resultado: quarto mais votado do pleito, vereador mais jovem da história de Goianésia, com 24 anos e, presidente da Câmara.
Em 1973 outro grande momento em sua vida: o vereador casa-se com Lizeti, neta do fundador Laurentino Martins. Da união com Lizeti, vieram Renato, Lorena e Lisandra. Vivendo emoções no âmbito político, profissional e familiar, Fião resolveu não ser candidato a reeleição para a Câmara. Entre estratégias para viabilizar seu nome para uma candidatura majoritária e algumas decepções, Fião resolveu que se sairia melhor na política de bastidores. Foi assim que graças à sua ajuda, chefiando comitês ou coordenando campanhas, conquistou vitória em praticamente todas as eleições. Ajudou a eleger Jalles Fontoura, Rubens Otoni, Hélio de Souza, Otavinho e, por último, já rompido politicamente com o grupo Lage, foi um dos coordenadores da campanha que deu a vitória a Gilberto Naves, após 16 anos. Humildade, Fião afirma: “Na verdade, estratégia, estrutura, coordenador, tudo isso só conta se tiver um bom nome, um forte candidato, isso que decide a eleição”.
Verdade ou não, fato é que uma campanha bem pensada, bem conduzida, numa cidade como Goianésia, conhecida pelo acirramento das disputas, qualquer detalhe acaba fazendo a diferença. Apesar da sua obstinação na campanha, uma vez ganha a disputa, Fião não se considera um conselheiro de nenhum prefeito de Goianésia. “Nunca fui de ficar dando palpite, de freqüentar Paço Municipal, negociar cargos, pressionar governos, não faz o meu estilo”, diz.
Sobre os sonhos de menino, Fião conseguiu também realizar o sonho de ter bois. Eleito melhor fazendeiro de Goianésia, segundo pesquisas de opinião, ele não se furta a fazer de tudo dentro de uma fazenda. “Gosto de estar envolvido nas lides do campo, não tenho preguiça de trabalhar, de me sujar”, revela.
Fião é um homem de muitas paixões. Torcedor do Santos Futebol Clube, é fã também de um jogo de truco. “Jogo bem, não trapaceio e nem gosto quando trapaceiam”, entrega. Outro momento de prazer é encontrado todos as tardes na sua tradicional caminhada que faz com o filho Renato. Dedicado e sempre lutando por ideais, Fião acabou de se formar, ao lado da esposa Lizeti, em Direito pela Faculdade Evangélica de Goianésia. “Com ótimas notas e raríssimas faltas”, se orgulha.
Fião, apesar de toda a estampa de homem simples, ligado ao meio rural, ao trabalho de contador, ao articulador político, ele conhece parte do mundo. Já viajou para o México, Argentina, Estados Unidos, França, Inglaterra, Áustria, Alemanha, Hungria, Polônia, República Tcheca, Holanda, só para citar alguns. Uma das viagens mais marcantes, segundo ele, foi feita em 2006, para o leste europeu, uma turnê de um mês pelos principais países europeus. Um fato que quase ninguém sabe da vida de Fião é que toda a família nunca viaja no mesmo avião. Nesta de 2006, para citar, Fião embarcou com Lizeti num dia, Renato em outro, Lorena em outro, se encontraram com Lisandra em Paris. Para quem pensa que é uma mania, Fião revela que é apenas precaução. “Há sempre o risco de uma tragédia, fazendo assim estamos garantindo que a família inteira não morra num desastre, é duro perder a família inteira, e também deixar toda a luta de uma vida para outras pessoas que não a sua família”, finaliza.
* Reportagem publicada originalmente na edição de janeiro/2011 da revista Tô de Olho.