O PREFEITO BEM ADORADO

Aos 63 anos, Teodoro de Araújo Aragão Filho, prefeito de Vila Propício, é o que se pode chamar de um homem que cumpriu sua missão. Isso vale para a vida pública, profissional e pessoal. Não há no Brasil nenhum caso de um município em que alguém tenha sido prefeito em 75% da sua história política. Vila Propício foi emancipada em 15 de novembro de 1995. Teodoro eleito prefeito em 1996. Em 2000 perdeu a eleição para Tasso Jayme. Em 2004 retoma a prefeitura e se reelege em 2008. Das quatro administrações, Teodoro comandou duas e está a metade da terceira.

Na esfera profissional, foi um advogado de sucesso. Formou-se em Direito em 1976, na Universidade Federal de Goiás (UFG), local onde seguiu carreira profissional, entrando como datilógrafo, em 1971, passando pela seção financeira, diretor da divisão de legislação pessoal (RH), até virar procurador autárquico da faculdade. Além da formação, Teodoro acumula quatro especializações: direito agrário, direito civil, processo civil e direito penal. Na UFG aposentou-se em 1996. Mas paralelamente trilhou trajetória de sucesso como advogado.

Já a vida pessoal deste homem simples, nascido em 9 de dezembro de 1947, na fazenda Altamira, região de Vila Propício, então município de Pirenópolis, é que é a mais interessante. Filho do fazendeiro Teodoro de Araújo Aragão e Maria Domingas Borges Aragão, ele o segundo filho dos cinco que seu pai teve no segundo casamento. No primeiro teve também cinco descendentes.

Apesar do pai ser um grande fazendeiro da região, Teodoro aprendeu a trabalhar e se virar desde garoto. Dos dez aos doze anos trabalhou no comércio, numa venda. Aos doze anos, ganhou do pai algo que equivalia para ele ao maior carro do mundo: uma carroça, com qual passou a fazer fretes. “Até de engraxar sapatos eu trabalhei”, conta, orgulhoso.

A DEMANDA

“Nada que acontece é 100% ruim, sempre se aproveita algo”, diz Teodoro Aragão, quando o assunto é a falência do pai. “Apesar de ser um homem analfabeto, meu pai tinha grande sabedoria e produzia de tudo na fazenda: café, arroz, feijão, açúcar mascavo, aguardente, além de possuir mais de 4 mil cabeças de gado”, conta.

Mas aconteceu algo que mudaria toda a vida da família, em especial iria decidir o destino de Teodoro Aragão Filho: a demanda que se arrastou por quase três décadas entre os Aragão e os Curado Fleury, de Corumbá, pela justiça. Como não tinha instrução escolar, Teodoro pai acabou perdendo quase todo o seu gado pagando as custas de um advogado. “Um profissional que usou de muita má fé para extorquir nossa família”, acusa Teodoro, o filho.

Surgiu daí a decisão de Teodoro, o pai: tinha que estudar um filho para advogado e continuar a demanda. A tentativa inicial foi com Bento Aragão, sem êxito. O destino havia reservado para Teodoro a missão de ser advogado e após 29 anos de demanda, por fim à injustiça, ganhar a causa e restituir a honra à família. “Descobri que meu pai estava certo, tinha toda a razão na demanda”, conta. Perguntado se ficou feliz com a vitória, Teodoro muda o semblante e, antes que pudesse responder, os olhos marejam, se emociona. É que o pai morreu em 1971, não chegando a ver o filho advogado, não chegando a ver o filho que carregava o seu nome por um ponto final na demanda que se arrastava por quase 30 anos.

A POLÍTICA

“Não tinha plano algum de entrar para a política. Meu sonho era fazer fortuna como advogado, pegar algumas grandes causas, ligadas à terras e fazer meu pé de meia”, conta. Mas havia uma grande causa: a emancipação de Vila Propício como município. Com uma oposição ferrenha ao projeto, alguns líderes da comunidade delegaram a Teodoro a missão de conduzir o plebiscito. Para que Vila Propício conquistasse a emancipação política, se desligando de Pirenópolis, precisaria de 50% mais 1 dos votos da população do então povoado. Muitos interesses estavam em jogo. Teodoro não titubeou e encarou o caso como uma missão sagrada e, após muita habilidade política, conseguiu que a causa separatista saísse vitoriosa. Aprovada na Assembleia Legislativa, em 1995, por iniciativa do então deputado estadual Marconi Perillo, a emancipação política de Vila Propício era uma realidade. Vencida esta etapa, surgiu outra muito urgente: quem seria o prefeito da nova cidade? Olímpio Jayme, poderoso político do Estado, já estava em campanha. Os companheiros de Teodoro na emancipação não tiveram dúvida e o convenceram de que ele era o único com chance de vencer o ex-deputado. “Tive medo de ser covarde com a história de Vila Propício”, revela Teodoro. Resultado, acabou conseguindo o apoio de Olímpio e sendo eleito primeiro prefeito do novo município, isso em 1996. Quatro anos depois, concorre à reeleição, mas acaba perdendo para Tasso Jayme, filho de Olímpio. Em 2004 dá o troco em Tasso, vencendo a disputa e retomando a prefeitura. Em 2008 é reeleito sem surpresas e cumpre seu terceiro mandato.

AS OBRAS

É difícil andar pelo município de Vila Propício e identificar alguma obra que não tenha saído das mãos de Teodoro Aragão. “Quando assumi como prefeito em 1997 não teve como nem sentar na cadeira. Não havia cadeira, tive que comprar uma. Não tinha nada e muito por fazer”, lembra. Destemido, enfrentou todos os desafios e conseguiu fazer de Vila Propício um município conhecido em Goiás. Amigo de políticos importantes que comandaram o Estado como Iris Rezende, Maguito Vilela e Marconi Perillo, Teodoro conseguiu importantes recursos para o município, como a construção de estradas, casas populares, praças, pontes, prédios públicos, posto de saúde, escolas, creche, além da implantação de programas como Bolsa Universitária, Peti, ProJovem, apoio às gestantes, pessoas de baixa renda, entre outros.

Essas obras e benefícios não seriam possíveis se não fosse a influência do prefeito Teodoro, que através do deputado federal Luiz Bittencourt, conseguiu verbas importantes no Governo Federal. A habilidade para gerir os recursos e sanar as contas públicas, fez de Teodoro Aragão um prefeito a ser imitado em Goiás.

O FUTURO

Por entender que cumpriu sua missão como administrador público, Teodoro Aragão já olha para o futuro, para a vida pós-prefeitura. Em 2009 ficou alguns meses afastado do cargo por conta de um Acidente Vascular Cerebral (AVC), mal que lhe rendeu algumas dificuldades motoras. Chegou o momento de passar o bastão. E Teodoro se considera preparado para isso. “Minha última missão como político é conseguir eleger meu sucessor”, revela

Perguntado sobre o que vai fazer quando deixar a prefeitura, Teodoro pensa, pensa e responde, com notável sinceridade: “não sei”. E completa sob risos: “Talvez eu vá para Praia Grande tomar água de coco”. Em outro momento revela outro interesse. “Posso voltar a advogar e tentar ganhar dinheiro”. Certo é que terá mais tempo para ficar com a família, sua esposa Valdivina, seus quatro filhos e quatro netos. Indagado se iria sentir falta do poder, Teodoro não teve dúvidas e respondeu com a ilustração do momento da vitória em 2008. “Quando venci a eleição havia dois sentimentos diferentes: o do povo era de vitória, de euforia e o meu era apenas de dever cumprido, afinal eu não poderia deixar meus companheiros na mão, o projeto não era meu, era da coletividade”, finaliza.

BASTIDORES

Teodoro Aragão é um homem simples. Para realizar a reportagem a equipe da revista Tô de Olho foi recebida por ele, com um amistoso aperto de mão. Camisa pólo, calça jeans, Teodoro demonstrava certa emoção quando o assunto girava em torno da sua família, em especial do seu pai.

Na sua mesa, além de papéis, há um objeto com o símbolo da UFG; o livro “Coronelismo em Goiás”, de Itami Campos; uma imagem de Nossa Senhora Aparecida; uma pequena espada japonesa; foto da campanha passada, com Iris Rezende, Thiago Peixoto, Mara Naves e Gilberto Naves e atrás de si, um grande crucifixo, amparado por uma corrente. “Tudo presente que recebo, sou uma pessoa muito querida”, finaliza o bem amado, ou melhor o bem adorado, Teodoro.

* Reportagem publicada originalmente na edição de fevereiro/2011, da revista Tô de Olho.

Anderson Alcântara
Enviado por Anderson Alcântara em 08/03/2011
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