A CARA DO PODER
O Prefeito de Manaus, Amazonino Mendes (PTB) foi visitar uma área de risco, onde duas pessoas morreram. A sua visita gerou certa aglomeração de moradores, fotógrafos e repórteres. Foi quando uma moradora queixou-se de que só vivia ali por não ter outra saída: O que fez o governante diante das câmeras? Sorriu para ela e fez um discurso emocionado em favor dos pobres, fracos e oprimidos? Bateu no peito e disse que se compadece com o povo? Assegurou melhorias e selou um compromisso com a população amazonense? Nada disso. Amazonino virou para a mulher e soltou esta pérola:
- Minha filha, então morra. Morra!
O Ilustríssimo Prefeito evidencia o que boa parte dos políticos escondem atrás de muita oratória (pra não dizer lábia). As belas palavras que presenciamos, principalmente durante campanha eleitoral, são mera demagogia. No tempo da Ditadura, o então Presidente João Figueiredo afirmou: “Prefiro o cheiro dos meus cavalos do que o cheiro do povo”. Ao menos ele foi sincero, pois a grande maioria dos políticos beijam criancinhas, abraçam os “Zés” e as “Marias” da vida e visitam comunidades carentes só para angariar votos de eleitores mal educados, mal alimentados e mal alojados em suas residências. O que eles fatalmente sentem pelo povo é repulsa. Os governantes sentem nojo do povo, e isso é antigo.
Em Roma, os patrícios não se relacionavam com os plebeus. Na sociedade feudal, nobres e camponeses não comungavam nem na hora da missa. Já na França do século XVII, o rei Luís XIV sai de Paris e vai residir no Palácio de Versalhes, bem distante do povo, que nada significava pra ele. Seu neto, Luís XVI deixou o povo com fome, mas para os nobres havia festas e banquetes nos corredores do palácio. O luxo da corte de Versalhes contrastava com a miséria que assolada a massa campesina. Historicamente quem assumiu o poder agradava os mais afortunados, pois eram esses que garantiam o seu governo. Cabia ao restante da população baixar a cabeça e resignada a viver a míngua, participar das missas e rezar um bocado para quem sabe ter uma boa vida depois da morte.
Apenas com a manipulação da democratização, na segunda metade do século XIX, os políticos tremendo de medo de que os inúmeros partidos trabalhadores de ideal Marxista se rebelassem e tentassem implantar o Socialismo, começam aos poucos liberar certos benefícios, tais como um sistema de previdência, aumento de salários, férias remuneradas e redução da jornada de trabalho. Negociando cara a cara com os líderes trabalhistas, os homens do Estado forjam uma afinidade com as classes menos favorecidas. E o plano deu muito certo, pois os Partidos Revolucionários, que pregavam que todos os trabalhadores do mundo pegassem em armas e derrubassem o Capitalismo, foram afinando o tom e cada vez mais reformistas, passaram a ver mais vantagens nessas negociatas do que com a implementação da Revolução.
Não me admira a postura do Srº Amazonino. O que me surpreende é ver a população se escandalizar com aquilo que todos já estão “carecas de saber”. Acorda meu povo! Se os governantes se preocupassem com a gente, não haveria fome, analfabetismo, desabrigados, desempregados, pessoas morrendo soterradas, e idosos sem leito pela falta de estrutura dos hospitais. Lembram da novela Vale tudo? Lembram do personagem do Reginaldo Farias? Aquele mesmo, que fugiu do Brasil com os bolsos cheios de grana e deu uma “banana” para o país. É mais ou menos por aí. Lembram que o tema de abertura era a música do Cazuza? Brasil! Mostra tua cara! Amazonino tratou de nos mostrar direitinho.