Aos amigos do rei, tudo
Depois do escândalo de corrupção em São Sebastião que derrubou o secretário de Habitação -- era o mínimo que podia acontecer --, o secretário que o substituiu vem a púbico para dizer que pretendem mudar a lei. A alteração vai permitir que se construa o até então proibido "terceiro pavimento", mas só que "daqui para a frente".
Ou seja, quem construiu desafiando as posturas municipais vai continuar com seus imóveis irregulares e sujeitos a não obterem o habite-se ou a tê-los cassados ou cancelados. Mal sabe o tal secretário que, aprovada a lei, ela vale para todos. É seu princípio fundamental. A lei goza do atributo da impessoalidade, é dirigida a todos. Logo, não haverá pena para ninguém.
Portanto, ao pretender enganar dizendo que quem construiu irregularmente vai ser punido, o distinto secretário prega apenas uma falácia deliberada, consciente, uma mentira canhestra e odiosa que apenas busca "tapar o sol com a peneira". Punidas estarão as pessoas honestas que construíram seus imóveis respeitando em tudo as posturas. Estes são os idiotas da história: pessoas decentes.
O duro nisso tudo é que ele tem o aval do prefeito da cidade. O próprio alcaide já esteve na mídia para anunciar a reforma na legislação para permitir o maldito terceiro pavimento, "resolvendo a situação". Chegou a dizer que nada foi provado de irregular na conduta dos funcionários públicos acusados da lambança. Será que apuraram direito?
O fato é que os privilegiados são pessoas poderosas, de dinheiro, por certo financiadores de campanhas, amigos do peito e sei lá mais o quê. E estes não podem agora "ficar na mão" pelo muito que significam ou significaram em termos de "companheirismo". Então, neste caso, é mais fácil alterar as leis e legalizar as falcatruas todas. E fod...-se a sociedade. O povo, ora o povo - é frase bem conhecida.
Alguém dúvida de que isso ainda irá acontecer e todos, os que acreditavam na justiça, vão ficar chupando os dedos?
Razão assiste à jornalista Regina Helena de Paiva Ramos que, em manifestação pública, afirma: "O senhor [prefeito] não sabe resolver os conflitos que se lhe aparece e acha mais fácil "legalizar" irregularidades do que lhes impor formas punitivas; o senhor, com esta "legalização" do terceiro andar -- contra as leis vigentes do seu próprio município -- protege corruptores e corruptos e penaliza quem segue a legislação e respeita as normas de boa vizinhança, boa conduta e de cidadania".
Ela conclui: "Peço-lhe, também, que evite me cumprimentar por que não lhe responderei. Não posso cumprimentar um homem que condescende com corruptos e corruptores".
Ao ver essas pessoas "que tudo podem" ser trazidas a público como privilegiadas, "amigos do rei", felizes e sorridentes, preferiria vê-las igualmente expostas à opinião, mas por serem "amigos do réu". Nem tão felizes, nem tão sorridentes.
Mas isto não é coisa que aconteça no Brasil.