O fenômeno Tiririca

O FENÔMENO TIRIRICA

A filosofia credita à palavra fenômeno (fenómenon, no grego, algo observável) um sentido sui-generis, que aponta para alguma coisa fantástica, fora-de-série, diferente. O verbete tem sua raiz no verbo fainôo, “aparecer”, indicando que o fenômeno é algo que aparece, e pode ser percebido pela observação ou pela experimentação, dos sentidos ou das ciências. O filósofo Kant († 1804) afirma que fenômeno é tudo aquilo que pode ser objeto de interpretação sensível, sendo capaz de se integrar em nossas intuições a priori de espaço e tempo.

Na sociologia, vamos encontrar o fenômeno social como algo que designa os acontecimentos que decorrem da vida humana, tais como eventos econômicos, políticos e de comportamento. Todos esses fenômenos constituem o objeto de estudo das Ciências Sociais a partir de diferentes perspectivas.

Na eleição de 2010, o Sr. Francisco Everardo de Oliveira Silva, mais conhecido como Tiririca, com o slogan “Pior que tá não fica”, fez 1,3 milhão de votos, uma votação tão expressiva capaz de levar consigo mais quatro deputados de seu partido (PR) para a Câmara Federal. Ora, se temos tantos palhaços na Câmara, há mais de vinte anos, só fazendo merda, porque não agora um líder para eles, um palhaço de fato?

A propaganda eleitoral de Tiririca chamou atenção. Vestido de palhaço, ele apareceu entoando frases do tipo: “O que é que faz um deputado federal? Na realidade, eu não sei. Mas vote em mim que eu te conto”, “Para deputado vote no abestado” e “estou aqui para pedir seu voto porque eu quero ser deputado federal para ajudar os mais ‘necessitado’, inclusive a minha família”.

A partir dessa observação que nos vem a idéia do fenômeno. Na verdade, a política brasileira é algo que nos faz rir e ao mesmo tempo nos enche de indignação. Ora, para fazer rir nada melhor que um palhaço, e para indignar-nos basta saber que um nos representa. A eleição de Tiririca revela a falta de seriedade do eleitorado, o mesmo que na década de sessenta elegeu o “Cacareco”, um rinoceronte do zôo de São Paulo. Essa falta de seriedade, no entanto é um sintoma de coisa mais grave, como falta de credibilidade nas casas legislativas. Um voto de protesto, desse tipo, aponta para o descrédito do processo sociopolítico nacional. Ora, se um bacharel, engravatado, bem falante não atinge os objetivos políticos que o povo espera, a solução é votar num palhaço, escrachado, semi-analfabeto, desdentado e mal-falante. Trata-se da resposta de quem concorda que “Pior que tá não fica”.

A eleição do palhaço Tiririca nos deixa algumas questões: os eleitores são palhaços? A Câmara é uma palhaçada? Um pouco de cada coisa?

Filósofo e Doutor em Teologia Moral