Dilma e Sísifo

A presidente Dilma Roussef terá que fazer um esforço digno de Sísifo, aquele personagem da mitologia grega condenado pelos deuses a rolar eternamente montanha acima uma enorme pedra, que, ao chegar no topo, rolava encosta abaixo, num esfroço inútil.

Experiente e, talvez, a governante da atualidade mundial que reúne a melhor condição de enfrentar o desafio energético, Dilma conseguirá superar o dilema de Sísifo, se der um choque na matriz energética brasileira, tirando o enfoque obstinado sobre o petróleo e o etanol e promovendo investimentos em tecnologia nuclear e outras fontes alternativas de energia.

Sem energia, o Brasil continuará patinando entre os países emergentes, e o que acontece agora nesse setor ameaça gerar um colapso no desenvolvimento industrial brasileiro, a médio prazo,pois os itens energéticos continuam com seus preços cada vez mais elevados, dificultando a competitividade dos produtos brasileiros de maior valor agregado destinados à exportação.

A construção de outras grandes hidrelétricas se tornou proibitiva para os ambientalistas; a tecnologia nuclear continua gerando embates políticos e diplomáticos entre as nações,além de restrições por parte dos ecologistas; o etanol começa a sofrer críticas de vários segmentos produtivos brasileiros, por causa da ampliação da área de produção da cana-de-açúcar, em detrimento das áreas agricultáveis e de criação de gado para outros alimentos componentes estratégicos da pauta de exportações; e os investimentos do Brasil na busca de fontes alternativas de energia continuam pífios,com ligeira ressalva do gás natural que vem da Bolívia e do próprio subsolo brasileiro.

Sem energia, não há desenvolvimento econômico e social, e a competição internacional pela autosuficiência energética se torna cada vez mais acirrada.

Dilma tem condições de mudar esse quadro e garantir o êxito de seu governo,com vontade política,mobilização do empresariado nacional e um programa ousado de investimentos estatais em pesquisas, desenvolvimento e aquisição,mediante negociações equitativas,com países detentores de tecnologia em áreas potencialmente promissoras.

Não precisa soletrar compromissos de continuidade do governo Lula,porque dificilmente repetirá a governabilidade (popularidade + eficácia) do seu amigo e preceptor político, que teve até aqui uma trajetória peculiar de carisma e quase (se lhe permitirem) caudilhismo.

Basta dar robustez à matriz energética brasileira, e consolidará importantes conquistas econômicas e sociais,garantindo com dignidade o respeito dos brasileiros e do mundo.

Feichas Martins
Enviado por Feichas Martins em 02/01/2011
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