Sem mordomias
SEM MORDOMIAS
Os países da América Latina, e entre eles privilegiadamente o Brasil, são os que mais concedem mordomias aos seus parlamentares. No momento em que nossos deputados pleiteiam um aumento de 100% em seus já volumosos salários, o que nos enche de indignação, é bom a gente realizar um comparativo do que ocorre aqui e o que acontece lá fora. O aumento pretendido iria gerar uma equiparação com os ministros do STF. Ora, vamos combinar, não existe comparativo entre as atribuições, a produtividade e o preparo entre uma categoria e outra. Enquanto um ministro do STF é um técnico-científico; ser deputado federal qualquer um pode ser, desde que convença o coitado do eleitor. Não precisa maiores currículos escolares.
Já tivemos (ou ainda temos?) deputados que eram motoristas de táxi, caminhoneiros, desempregados, etc. Pior é esse etcétera... A dúvida na eleição do palhaço Tiririca está em saber se os palhaços são os eleitores ou os deputados. Ou ambos?
Para fazer um comparativo, que vai aumentar ainda mais a nossa contrariedade, vamos ver como trabalham os deputados do Primeiro-Mundo, mais especificamente os da Suécia.
Lá a “moradia funcional” é coisa nova: existe desde 1998. E as que existem não são aquelas coisas suntuosas que se enxerga por aqui... A classe política não tem mordomias. Um apartamento funcional de um deputado tem quarenta e dois metros quadrados, com um cômodo que serve de sala e espaço para dormir, em um sofá-cama. Nesses prédios não há cozinha nem lavanderia particular; é tudo comunitário e todos se encarregam da limpeza.
No parlamento, os gabinetes dos deputados não têm mais de vinte metros quadrados. Não há assessores nem secretárias particulares, Cada um paga esses serviços do seu próprio bolso.
Diferente daqui, lá um deputado não tem carro oficial, muito menos motorista. Não ganha passagens gratuitas de avião, nem auxilio-alimentação. O máximo que aufere é “vale transporte” para andar de metrô. Nunca esquecendo que lá é Primeiro Mundo, pais rico e desenvolvido.
Já viram por dentro um apartamento funcional de deputado em Brasília? A sala é tão grande que é capaz de caber todos os seus eleitores nela. E os gabinetes? Sabem a quanto vai o gasto com selos de correio, telefones fixos e celulares, verba de representação, combustível, salários dos assessores e passagens de avião para visitar “as bases”? Uma fábula! Nas casas legislativas tem ainda barbeiro e cabeleireiro de “cortesia”. E ainda querem um aumento de 100%. Se você, caroleitor, estiver de acordo com este texto, mande uma cópia a seu deputado.
É lamentável notar a assimetria entre o que ganham nossos parlamentares, deputados federais e senadores e o que produzem. Se poderia incluir nessa desproporção, também os ganhos dos magistrados. Ou não?
O autor é escritor, filósofo e doutor em Teologia Moral