Pão e circo. De novo
Tiririca cumpriu todas as expectativas e transformou-se no deputado federal mais bem votado de que se tem notícia, com 1,3 milhão de votos, só perdendo para o Enéas Carneiro, com 1,5 milhão, em 2002. A enxurrada de votos não deixa dúvida quanto às intenções do eleitor.
Era esperado.
Não que o neófito fosse um “salvador da pátria”, mas porque representava a opção para o protesto de um povo cada vez mais descrente de seus políticos ordinários.
O eleitor não pretendeu renovar inaugurando a era Tiririca. Não foi a intenção. Quis apenas protestar. E fê-lo através da única ferramenta de que dispõe: o voto.
Há quem diga que a intenção foi outra, a de avacalhar a política. Que seja. Pôr um palhaço onde a seriedade de há muito deixou de reinar, em que muda? Isso não abafa o protesto.
Segundo a Vox Populi, em trabalho encomendado pela UFMG, 20% da população consideram a corrupção brasileira como algo “grave” e 77% como “muito grave”.
A verdade é que a extraordinária população brasileira está cansada dos maus políticos que possui. Ninguém agüenta mais tantos escândalos envolvendo tantas “excelências” a um só tempo.
São escândalos em série, dos quais sobressaem o do mensalão, dos dólares na cueca, do dinheiro nas meias. Nessa roubalheira toda, ninguém foi parar na cadeia, que é o lugar de bandido.
Vivemos um país do faz-de-conta, onde roubar parece valer a pena, já que ninguém vai preso. Segundo a Associação dos Magistrados Brasileiros, a AMB, apenas 1% dos processos contra autoridades provoca punição, ainda assim multas insignificantes a maioria.
O povo já se apercebeu disso e está saturado. Por isso é que pôs no Congresso Nacional um palhaço autêntico.
É a história reversa do “pão e circo”. O cidadão comum agora quer se fazer representar de verdade e escolhe os seus palhaços. Este é o Brasil que vivemos, concreto, real. Não o que desejamos, a toda evidência.
Que o Tiririca ao menos nos faça rir. Estamos cansados de lamentar a montanha de dinheiro público que a cada dia, mês e ano escoa pelos esgotos da corrupção, para nunca mais voltar. Três a 5% do PIB, segundo estudos da Fundação Getúlio Vargas.
Como o Tiririca mesmo diz: pior não fica...