EM VISTAS À COPA

Sob diversos aspectos a África do Sul foi parabenizada pelo sucesso na realização da Copa do Mundo. O povo participou, os turistas foram bem recebidos, os casos de violência foram reduzidos, os jornalistas puderam realizar seu trabalho com plena liberdade, o transporte fluiu dentro do esperado, os estádios foram construídos com arte e comodidade. O país mostrou sua cara: convivência racial relativamente pacífica depois do apartheid; os quarteirões pobres nas periferias das grandes cidades, mas em processo de humanização; respeito e homenagem aos grandes heróis do país. Finalmente um povo negro reconhecido pelo mundo como um povo digno de respeito. Assim poderíamos nos alongar em análises da Copa na África do Sul. No entanto, isto não é o meu objetivo nesta minha consideração. A Copa da África do Sul já é história. Quem deve se preparar para entrar mais uma vez na história das Copas Mundiais de Futebol é o Brasil. E preparar o momento histórico de uma Copa, com certeza, é um período de entusiasmo, de auto-estima para um povo. Mas, se este período de entusiasmo não for bem conduzido, em vez de crescimento da auto-estima, pode resultar num lamentável fracasso. Por isto é tempo de o Brasil por mãos à obra. Não podemos esperar que em 2014 mostremos ao mundo um Brasil com todos os seus problemas resolvidos, mas podemos esperar que não fiquemos atrás da África do Sul. Já isto é uma tarefa gigantesca. Vejamos alguns tópicos.

A África do Sul, antes da Copa, estava num ranking elevado de violência. Conseguiu reduzir este patamar a índices razoáveis. E o que acontecerá entre nós quanto à violência? O Brasil está em 83º. lugar no ranking da violência em 149 países; segundo algumas afirmações o Brasil é o 6º. país mais violento no mundo. No ranking da corrupção, o Brasil ocupa o 80º. lugar, numa relação de 180 países. O índice de desenvolvimento da educação básica (IDEB) no Brasil é vergonhoso; o mesmo vale do índice de desenvolvimento humano (IDHU). A grande maioria da população não possui saneamento básico; filas enormes se formam em postos do SUS. Somente na região metropolitana do Recife, encontramos mais de 600 núcleos favelados (cf. dados do Cendhec). O trânsito nas principais cidades brasileiras é caótico e insuficiente. Estradas esburacadas. Aeroportos insuficientes para receber com respeito os turistas da Copa. A população, em alguns lugares mais e outros menos, não possui uma educação comunitária minimamente civilizada. Assim encontramos cidades com muita sujeira nas ruas; calçadas esburacadas, muitas vezes entupidas por camelôs, vendendo produtos pirateados e contrabandeados; vendendo alimentos sem os mínimos cuidados com a higiene. Taxistas sem nenhum conhecimento de língua estrangeira; recepcionistas de hotéis e atendentes em restaurantes semianalfabetos. E assim vai. Como então preparar o país para uma Copa civilizada? Sem violência; sem corrupção, inclusive quanto aos gastos com a reforma e construção das “Cidades da Copa”; recebendo os turistas da Copa com o objetivo de que voltem para as suas terras com uma imagem que o Brasil merece. Sem dúvida, isto custará muito trabalho e muito dinheiro.

Especialmente o Recife está diante de uma tarefa hercúlea. É absolutamente necessário desenvolver projetos para o embelezamento da cidade. E este embelezamento começa com a educação do povo para que deixe a cidade limpa, sem jogar lixo nas ruas, liberando as calçadas para os pedestres; treinando guias turísticos, taxistas, recepcionistas em hotéis e garçons dos restaurantes, motoristas dos ônibus; instruindo nossos policiais e guardas municipais para que evitem a corrupção das propinas, e não abusem do poder. Com certeza, todos os pernambucanos desejam que os visitantes da Copa voltem aos seus países elogiando o povo de nosso Estado. Isto é possível, mas exige que, desde já, se comece a educação do povo e a humanização de nosso ambiente urbano e turístico. Se o Brasil não conseguir corresponder às exigências da FIFA, a culpa deverá ser atribuída à incompetência dos políticos administradores de nossa vida pública. Por fim, perguntas que estão angustiando: quando iniciarão as obras da “cidade da Copa” em Pernambuco? Haverá tempo? E, como andam as obras em outros Estados?

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Inácio Strieder é Professor de Filosofia - Recife- PE.