TERRORISMO CAPITALISTA

A sistematização do sistema capitalista é fruto da modernidade e do iluminismo. Isto significa que o capitalismo possui uma lógica racional que exige a burocratização de suas leis e de seus métodos. Esta burocracia é aperfeiçoada progressivamente de acordo com os instrumentos disponíveis, e produzidos pelo próprio capitalismo. E hoje, que instrumentos estão à disposição para a burocratização do manejo do capital? Sem dúvida, a informática, a internet, a eletrônica em todas as suas formas e com todos os seus recursos.

O capitalismo trabalha com o capital, com o dinheiro, com o processo econômico em geral, buscando o crescimento deste capital. E o cuidado com o capital está, hoje em dia, praticamente, com exclusividade, aos cuidados do sistema bancário mundial. A instrumentação eletrônica já permitiu, nos nossos dias, que o capitalismo bancário mundial unificasse os seus interesses de proteção e multiplicação do capital. Isto significa uma eficientíssima racionalização e burocratização do sistema. Mas a que custos?

Todo aquele que entrar no sistema capitalista bancário ou comercial estará fichado. Perde a sua privacidade. Basta ter uma conta bancária, um cartão de crédito, receber seu salário através de algum Banco, e o seu nome estará sob constante vigilância em toda a rede capitalista mundial. Assim, se atrasar alguma conta, se deixar de pagar seu imposto de renda, no dia seguinte seu nome estará fichado e sob suspeita de desonestidade em todo o sistema bancário e fiscal. E a consulta pública ao nome permitirá a negativa a qualquer crédito de cartão, de cheque, de financiamento, de empréstimo, de compra a prazo. Estas informações disponíveis a qualquer um não tomam em consideração qualquer falha do sistema, de cobranças, muitas vezes, abusivas e injustas , ou de situações humanas imprevistas, e até mesmo catastróficas na vida dos cidadãos. E quem tem o nome sujo na praça é visto como caloteiro, desonesto, possível ladrão. E quais as consequências?

Quem atrasa a fatura do cartão do crédito, no dia seguinte já paga multa e mais juros; no mês seguinte é juros sobre juros, uma agiotagem sem antecedentes históricos. Seu nome é inserido no SERASA. Um verdadeiro terror, que chega a mais de 20% de juros ao mês (aqui no Brasil!). Com 15 dias de atraso nas contas de Luz e Água seu nome estará no SERASA (aqui em Pernambuco), mas CELPE e COMPESA só se dispõem a negociar contas, eventualmente erradas ou abusivas, depois do atraso de três contas. Mais um terror capitalista, pois, depois de 15 dias é cortada luz e/ou água; o nome do cidadão fica sujo no SERASA, e as firmas só negociam com o cidadão depois de três meses? Ao menos é isto que as atendentes telefônicas informam. Para a empresa, toda a racionalidade tecnológica; para o cidadão, a irracionalidade da ofensa moral, do desrespeito à privacidade, da opressão ao mais fraco. Pois o que adianta um cidadão individualmente recorrer à justiça contra o serviço jurídico de uma rede bancária capitalista ou de empresas de enorme reserva de capital? Ainda mais num país com justiça lenta e atrelada ao sistema capitalista. E neste sistema capitalista, em que existe um comércio de informações sobre clientes, se torna um terror receber todos os dias telefonemas, e mais telefonemas de televendas, de Bancos, cobranças, etc. Felizmente, quando possuímos binas nos telefones, é possível não atender a números desconhecidos ou indesejados. Mas que é um tormento, é!

E assim poderíamos continuar a enumerar situações em que o terror capitalista nos tortura no dia-a-dia, ferindo a nossa dignidade de cidadãos. Até seria interessante que algum político, nesta campanha eleitoral, prometesse restringir este terror capitalista nos próximos quatro anos de governo republicano democrático em nosso país.

Inácio Strieder é professor de Filosofia - Recife/PE