Vergonha

Vergonha

Há uma teoria que diz que os dinossauros não desapareceram com a era polar e sim porque enlouqueceram e se destruíram, sempre a considerei visionária, agora, pensando bem, acho-a extremamente coerente e creio que caminhamos à largas passadas para repetirmos essa história.

Dizem que o homem evoluiu (?) e tornou-se soberano do planeta por não ter predadores naturais, se não tinha, agora tem, é ele mesmo. Até quando vamos nos destruir, nos mutilar, nos matar por algumas notas ou intransigência de pensamento, credo, cor ou algo similar?

Como afirmar que o homem é racional se ele prefere a guerra ao diálogo para resolver suas diferenças? Como explicar as guerras religiosas se muitas vezes seus antagonistas possuem versões similares de uma mesma história? Como explicar os políticos? Uma classe preocupa com o auto-enriquecimento, com a pompa questionável de cargos públicos, com poder acima do bem e do mal que se auto-impõem e as inconseqüências de seus absurdos,impensados e egoístas atos.

Como assistir indiferente aos discursos ensaiados das “autoridades”

culpando as pessoas por morarem em áreas de risco sabendo que muitas jamais tiveram qualquer alternativa? Como assistir a cada eleição os novos (ou velhos, quase sempre os mesmos) candidatos criticarem indiscriminadamente a administração vigente, ansiosos para assumirem e cometerem os exatos mesmos erros e inventarem outros mais? Até quando aturar promessas absurdas de campanha sem qualquer coerência ou viabilidade?

Profundamente lamentável esse jogo de empurra-empurra de responsabilidade das autoridades (in) competentes, especialistas em se eximirem de culpa e entregarem a cabeça dos outros em bandejas caríssimas compradas com dinheiro público desviado em pseudo-licitações ou na mão grande mesmo.

A palavra política é grega: ta politika, vinda de polis. Polis é a Cidade, entendida como a comunidade organizada, formada pelos cidadãos nascidos no solo da Cidade, livres e iguais, portadores de dois

direitos inquestionáveis, a isonomia (igualdade perante a lei) e a

isegoria (o direito de expor e discutir em público opiniões sobre ações

que a Cidade deve ou não deve realizar). Direitos iguais? Não é o que eles pregam, com suas “carteiradas” e o famoso chavão “Com quem você pensa que está falando?”, talvez todos que não eles e os seus o sejam, mas sua corja jamais.

Sinto-me completamente enojado com essa classe ridícula que distorce tudo que poderia haver de bom numa teórica democracia, com esses corruptos que deveriam estar presos, mas que jamais estarão porque votam seus vencimentos, suas leis absurdas, suas isonomias e seus salvo-condutos.

Enquanto o povo que acorda cedo para trabalhar e se mata para sobreviver pagando impostos absurdos para mantê-los com suas mordomias exacerbadas, sofre com suas limitadíssimas condições, ele ostentam carros caríssimos, apartamentos babilônicos e bens incompatíveis chorando falsas lágrimas pelo sofrimento dos que eles ignoram e só vêem como número quando querem votos para perpetuá-los em cargos figurativos.

A chuva é uma incontrolável força da natureza e infelizmente não escolhe quem atinge e destrói, o que inevitavelmente a direciona para os mais carentes e sofridos, mas tenho convicção que se pudesse, escolheria afogar e destruir esses canalhas que só fazem oprimir e destruir as pessoas que os elegem e designam a eles suas já combalidas esperanças.

Pelo menos eles poderiam desaparecer das nossas telas com seus rostos mascarados e suas mentirosas expressões de dor e pensar em efetivamente fazer algo além dos seus interesses pessoais.

Tenho vergonha de ser brasileiro, tenho vergonha de votar, tenho nojo do que nós nos tornamos e principalmente, tenho muito medo do que ainda virá.

Leonardo Andrade