As regalias de paquete
Está muito em moda a palavra regalia, e justamente para ser condenada. Ao menos nos discursos dos candidatos que a perseguem a todo custo. Em nome da moralidade - ou morolidade?
Já o paquete, é coisa ainda mais séria. Primeiro porque muito pouca gente tem noção do que vem a ser um paquete, senão forma um tanto vulgar de se referir à menstruação. Mas o paquete de minha estória - derivado do paquebot francês, provavelmente - tem a ver com embarcação marítima.
Vi a expressão vapor com regalias de paquete num texto de ofício de correspondência diplomática da segunda metade da década de quarenta, redigida quando a representação diplomática brasileira em Varsóvia, capital da Polônia, não tinha ainda o status de Embaixada: era uma Legação. Para comparar, imagino que corresponderia à diferença entre um diaconato e um sacerdócio. Ou seja, a Legação estava ainda por se transformar em Embaixada, o que veio a acontecer uns poucos anos depois.
O redator, chefe da Legação do Brasil, era então um Ministro - cargo diplomático abaixo apenas do de Embaixador - cujo nome não me vem à lembrança agora. Em seu ofício ao Ministério das Relações Exteriores, ainda no Rio de Janeiro naquela época, o Ministro solicitava autorização para viajar ao Brasil, em férias, ou licença, na oportunidade em que dispusesse de um vapor com regalias de paquete, que zarparia naturalmente do porto de Gdansk - fora Dantzig, durante o domínio alemão e, com a liberação da Polônia pelas forças aliadas, passou a ser território polonês - pois bem, do porto de Gdansk a referida embarcação de linha dirigiria-se à América do Sul, num percurso que haveria de durar semanas.
Lendo a correspondência subsequente não me foi contudo possível determinar se o referido chefe da Legação pode cumprir seu alvitre conforme desejava. O certo, deixara bem claro, é que sem as regalias de paquete não empreenderia a viagem. E sua senhora, embora não mencionada explicitamente na correspondência, pela mesma via. Via de regra. Redundantemente.