Gente louca por um pico
Como somos fichinhas em matéria de pico, pois nosso mais elevado já foi por muito tempo da Bandeira, uma verdadeira brincadeira, até ser encontrado o da Neblina, que, ufa, conseguiu chegar passar, raspando só, os 3.000 metros de altura, pouco nos tocam as sensações mirabolantes do montanhismo. Montanhismo, mais acurada expressão do que alpinismo, que é bem característico do eurocentrismo. Os Alpes, europeus par excellence têm lá sua sedução, mas são os picos asiáticos que mais contam nessa equação. E não sem razão.
Há no mundo 14 picos com mais de oito mil metros de altura, todos eles localizados e de neves perenemente coroados na formidável cadeia do Himalaia. E o Everest é entre eles o que mais chega perto do céu, e nessa infernal altura nem chega a ser de todos o maior réu.
E há montanhistas tão endiabrados que já conseguiram a mais louca proeza de escalar todos esses píncaros, los ochomiles, como se os chama em espanhol. E ao que parece, lá da mais suma altura, com toda graça é o Pai que mais proximidade rechaça. Os acidente fatais são uma norma em todo jeito, toda forma.
Um caso emblemático dessa insana peleja, é o de Juanito Oiarzábal, basco de pés nas nuvens, a poucos dias de se tornar sessentão, que quer ser o primeiro de todos a realizar a escalada dos Ochomiles por duas vezes cada.
Já cumpriu a sua primeira rodada e, na segunda, faltam-lhe onze. E que preço esse Juanito não pagou até aqui: em 2004, após haver se consagrado no terrível K2, complicou-se justamente na descida, e resgatado, com vida, ainda que congelado, perdeu todos os artelhos e curtiu um nariz preto por bom tempo.
E quem acha que só homem é que entra nessa, é porque desconhece a fibra da mulher trepadeira. Exemplo palpitante dessa sina aventureira é a também espanhola Edume Pasaban Lizarribar, basca igualmente, que não deixa o pau da barra baixar. Também já dominou os Ochomilles, mas para o alívio estético facuriano, soube preservar os seus trepantes e trepidantes artelhos...