BACH E O PRINCÍPIO DA INCERTEZA
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Eu tive que postar isso em "Notícias" porque não há uma categoria "Música" para escolher (ainda) neste site.
Algo que mudará, já que teremos muitas conversas sobre música aqui seguindo em frente.
Existe uma curva de resposta para mostrar como alguém se conecta a uma peça de música?
Algumas pessoas neste passatempo parecem pensar que as medições contam a história de como uma peça de equipamento se comunica conosco, mas como seres humanos estamos realmente sendo totalmente servidos por uma série de medições, tabelas de freqüência de resposta e gráficos ou estamos apenas recebendo uma pequena parte da história?
Como alguém que escreveu centenas de resenhas baseadas em sessões de audição realizadas em minha casa, em lojas físicas, em salas de demonstrações de fabricantes e em mais quartos de hotéis em feiras do que eu poderia contar, as medições nunca significaram muito para mim do ponto de vista da audição.
As medições são úteis e podem ser de valor inestimável para as pessoas quando se trata de certas coisas para procurar ao construir um sistema a partir de componentes diferentes.
Mas, indo mais fundo nos números de um amplificador, ou DAC, ou conjunto de fones de ouvido, o que exatamente as medições vão nos dizer?
Eles nos dirão se amaremos o som que o item medido é capaz de produzir?
Essas medições comunicarão a paixão de um solo de violoncelo da mesma maneira que ouvir o componente reproduziria?
Não, não seria.
Por quê? Porque não há substituto para ouvir você mesmo um componente e decidir por si mesmo se ele está conectando você ao teor emocional da música.
Foi este tópico que causou uma discussão entre o designer e fabricante de amplificadores Vinnie Rossi e eu sobre como as pessoas ouvem música e como as medições influenciam esse processo. E que talvez existam alguns que estavam começando a se concentrar tanto em medições que houve uma perda de clareza sobre o que está em serviço para o quê.
Um falante não está a serviço da reprodução da música para obter uma resposta emocional do ouvinte?
Ou a música foi relegada a nada mais do que “software” a serviço de “hardware”?
Embora a InnerFidelity esteja se esforçando para montar a melhor plataforma de medição de headphone possível no futuro, acho importante que os visitantes deste site saibam que as medições são uma parte da história, não toda a história.
No meu mundo, software é um programa que roda em um computador, música é o que eu ouço através de um sistema de som - independentemente de a fonte ser digital ou não.
Sua milhagem pode variar.
Meus sinceros agradecimentos vão para o Sr. Rossi por gastar seu valioso tempo escrevendo e compartilhando seus pensamentos aqui:
Não pense ... sinta-se!
Esta breve cena de Enter the Dragon (1973) tem uma maneira de me lembrar como não podemos medir adequadamente nossas respostas emocionais.
Em relação ao equipamento de áudio, as medições no banco usando tons de teste nunca podem definir completamente o que ouvimos ou como iremos pessoalmente processar e reagir à música.
Enquanto eles certamente têm sua utilidade durante o design e teste de um produto, as medidas podem ser como o “dedo apontando para a lua” como Bruce Lee explica ao seu aluno. Se você prestar atenção apenas no dedo, "perderá toda a glória celestial" (sua reação emocional à música). Medir é pensar, ouvir é sentir.
Dito de outra forma, assim como o cardápio do jantar em um restaurante é útil para nos fornecer certas “especificações” sobre uma refeição que podemos considerar como pedido, ela nunca pode transmitir adequadamente como a comida vai nos provar.
Assim, embora o menu tenha alguns dados úteis, os dados não são claramente os mesmos que o estímulo emocional - a degustação da comida e a resposta do nosso cérebro.
Não importa quão bem qualquer componente de áudio meça (por exemplo, um conjunto de fones de ouvido, alto-falantes, pré-amplificador, amplificador, DAC, palco de phono e até mesmo a acústica da sala de audição), se não houver uma conexão profunda com a música, as medições fornecem pouco significado relevante. O mesmo componente pode trazer muitos anos de prazer para outro ouvinte porque, ao contrário do equipamento de teste calibrado, há muita variação na forma como ouvimos e sentimos.
Felizmente, nossa indústria é abundante com o que parece ser tantos tipos diferentes de componentes, salas de audição e música, pois há várias formas e tamanhos de ouvidos que fazem a audição real.
Se todos nós concordássemos que os melhores produtos de medição seriam os de melhor som, nós essencialmente todos possuiríamos a mesma coisa e rapidamente se tornaria um hobby entediante.
Designers surdos em ambos os ouvidos ainda poderiam produzir excelentes produtos de medição, já que não haveria necessidade de eles ouvirem seus projetos.
Imagine assistir a um show de áudio onde todas as salas de audição foram corrigidas, continha o mesmo tipo de topologia de alto-falante, o mesmo tipo de eletrônica, etc. Para muitos, é frustrante o suficiente passar por salas tocando as mesmas faixas de demonstração usadas.
"O que é que foi isso? Uma exibição? Nós precisamos de conteúdo emocional. Tente novamente."
–Vinnie Rossi . . ."
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VALPA
O texto por mim grifado "... há muita variação na forma como ouvimos e sentimos. ...", me faz lembrar o que disse algures: "... O famigerado “gosto pessoal intransferível” explica-se pela maneira como um mesmo bom equipamento, na mesma sala de audição, reproduzindo repetidamente o mesmo CD de música clássica e com a presença de várias pessoas para avaliação, sofre uma adjetivação tão diversa a respeito de suas qualidades. ..."
Já ando desconfiado da minha própria linguagem e do meu ouvido.
Alguém disse “... Tive aulas de elementos de física atômica e nuclear com um professor que era discípulo e assistente de um pesquisador que estudava emoções por logarítmos. Hoje, estou profundamente perplexo com os segredos que desvendamos com algoritmos - é assustador. Mas o limite para essa aventura e descoberta é a nossa humanidade, que se delicia com as similaridades possíveis entre a música em ato e a sua reprodução eletrônica - e que por isso mesmo se impõe acima de qualquer outro valor ou saber. ..."
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Essa abordagem me fez lembrar de mensagem que há tempos remeti a amigo:
Mensagem a amigo:
“... Conforme obrigação assumida (se não a fiz, não me recordo muito bem, cumpro agora a promessa-da-intenção de havê-la feito), anexo material que venho selecionando de longa data,que se relaciona, direta ou indiretamente, à tentativa de obtenção do mito do realismo de um ambiente de concerto em nossa sala de audição!?
Vez por outra me questiono: é isso mesmo que muitos audiófilos desejam? Estaria esse tão almejado mito do realismo na etérea órbita dos sonhos, quase nunca alcançada? Qual o segredo para consegui-lo? À custa de pesados investimentos em equipamentos, sala de tamanho apropriado, tratamento acústico? Reunião de tudo i$$o e alguma coi$a a mai$?
Nosso amigo R. Heyser, em seu artigo “Em busca do som perfeito,” assim se expressa: “Toda nossa milionária indústria de reprodução de som depende, de uma maneira ou de outra, da suposição que a maioria das pessoas deverá experimentar o mesmo tipo de ilusão se sujeitas ao mesmo tipo de estímulos.”
Levando-se em conta que cada um de nós,por uma série de fatores, pode ouvir de determinada maneira, qual o caminho a seguir à procura dessa ilusão? Há pouco tempo, conversando com velho amigo sobre como conseguir o realismo dessa ilusão, ele relembrou que o ouvido não tem memória e me disse que para atingir tal objetivo é imprescindível que se tenha boa base comparativa e disparou: fulano, qual seria o seu referencial de ambiente de concerto? respondi que, na verdade, não tinha nenhum, pois raras vezes fui à sala Martins Pena.
Martins Pena?, hum..., grunhiu ele, franzindo o nariz . . .
Voltando aos sonhos, pesquisando na minha enciclopédia de almanaques Capivarol, encontrei a seguinte citação atribuída a João Ribeiro, ensinando que “...os intérpretes dos sonhos são muito latitudinários na sua exegese, que não é menos complicada que a dos sábios.”
Tomando por empréstimo essa citação e por analogia e extensão aterrissando-a no campo da música, o que se vê nas revistas especializadas, à falta de terminologia apropriada (musiquês/aparelhês) para bem descrever as qualidades de som que os articulistas dizem ouvir de equipamentos de som e de gravações, é uma incontrolável leniência verborrágica, que não se restringe aos sentidos, adentrando pelos terrenos da física, da química etc., com jargões sem fim.
Reputo estranho o uso dessas espécies de linguagem em certos casos, porém divertido em outros, cujo sentido, quase sempre vago, pode variar de pessoa para pessoa e até diferir daquilo que os colunistas pretendiam dizer. Aliás, será que eu escuto tudo aquilo que os colunistas dizem que escutam? Já ando desconfiado da minha própria linguagem e do meu ouvido.
Nota-se que não é de hoje que esse esquisito uso do idioma vem abrangendo todas as comparações: é um tal de motor que funciona redondo, cerveja que desce quadrada, vinho de sabor duro, queijo borrachudo e por aí afora. E nós, como ficamos? Seria o caso de nos conformarmos com a suposição citada pelo R. Heyser e passar a pensar utilizando sempre o vocabulário escalafobético dos jargões para explicar a nós mesmos o que estamos ouvindo ou sentindo? Você já ouviu falar de pídgins expandidos? Pois é, essa maneira de os colunistas se expressarem parece ser também uma segunda língua. Não sou contra, nem a favor. Muito longe do contrário.
A julgar pelo que se lê, com o desenvolvimento da tecnologia, observa-se que fica cada vez mais confuso e complicado entender realmente aquilo que os colunistas afirmam que escutaram, do que pode gerar brincadeiras e acaloradas discussões. O jeito é dar um desconto em tudo isso, pois mito é mito ...
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Resposta do amigo, entre outras considerações:
“... Você parece estar aplicando o Princípio da Incerteza à música. ...”
BACH E O PRINCÍPIO DA INCERTEZA
Resposta ao amigo:
“... Acredito não ter havido intenção de aplicar o Princípio da Incerteza à música. Todavia, afirma-se “...que o simples fato de existir um observador olhando a movimentação de dois corpúsculos subatômicos, já faria com que eles alterassem seu movimento, de forma que sua observação seria "falsificada" e não representaria "exatamente" como eles na verdade se comportam, quando não sob observação !!! ...”
Em tom de ironia poderia dizer que esses corpúsculos não gostam (?) de ser vistos, olhados, observados, medidos etc., pois alteram seu movimento. Observações colhidas alhures informam “... que é impossível conhecer simultaneamente a posição e a energia de uma partícula tal como o elétron. Isso porque, para se estudar uma partícula, é preciso interagir de alguma maneira com esta partícula.
Nenhum instrumento pode "sentir" ou "ver" um elétron sem influenciar intensamente o seu movimento. Se, por exemplo, construíssemos um microscópio tão poderoso, capaz de localizar um elétron, teríamos de usar uma radiação com um comprimento de onda muito menor que o da luz. (Para que um objeto diminuto possa ser visto num microscópio, o comprimento da luz utilizado deve ser menor que o diâmetro do objeto.) Esse supermicroscópio imaginário deveria, para isso, usar raios x ou raios g. Mas a energia destas radiações é tão grande que modificaria a velocidade e, conseqüentemente, o momento do elétron, numa quantidade grande e incerta. O princípio da incerteza pode ser assim interpretado: quanto mais de perto tentarmos olhar uma partícula diminuta, tanto mais difusa se torna a sua visão ...” No terreno do alhures vi “... que o que o princípio da incerteza diz essencialmente é que não existe meio de medir com precisão as propriedades mais elementares do comportamento subatômico. Ou melhor, quanto mais precisamente você mede uma propriedade ¾ digamos, o movimento de um elétron ¾ menos precisamente você pode conhecer outra ¾ nesse caso, sua posição. Mais certeza de uma, mais incerteza de outra. ...”
Já que o amigo diz que eu, realmente, estou “... aplicando o "Principio da Incerteza" de Heisemberg, da física quântica, à musica ...” seria o caso de perguntar:- se corpúsculos subatômicos alteram seu movimento quando vistos, olhados, observados, medidos etc., e que eles teriam outra movimentação quando estivessem lá no seu cantinho, escondidinhos de todos, poderia esse Princípio da Incerteza ser aplicado ao ar quando carregado de hertz de toda/qualquer freqüência e observado, ouvido, medido, gravado etc.?
Caso afirmativo, essas freqüências teriam seu comportamento alterado, “falsificado” como menciona você, diferente do que elas realmente se comportariam quando não sob observação.
No caso, tadinho do Bach: escreveu música pensando como ela soaria aos ouvidos humanos e é possível que não tivesse idéia de que, dentro em breve, poderiam surgir conceitos/regras da física quântica, que alterariam suas partituras. ...”