A FRATERNA RECEPÇÃO

(para Paulo Carneiro, que absorve e poetisa a vida em Goiânia – GO)

A bem da mínima verdade, na literatura estaremos entremeados por uma imensidão de intrincados pensares em prosa e verso, e, por certo, nos tornaremos mais próximos, mais fraternos, mais amigos, mais permissivos e expectantes quanto à fruição do que possamos congraçar como fruto de partilha e/ou comunhão de bens espirituais. Realmente, com toda a certeza do mundo, a poética forma laços indissolúveis entre os lúdicos praticantes e os inquietos, aflitos e necessitados daquela pujança de sugestão que a Poesia alberga como verdade fosse, sempre à espera de acolhimento e palavra no coração do semelhante. Ainda que ela se reproduza graças à humilde semente jogada ao fértil solo do reino da farsa, da fantasia, do sonho, na curiosa e conflitante fortaleza de veracidade aplicada com muito vigor até sobre a expressão do mais alto patamar da falsidade, que é a mentira, segundo o estudioso analista e crítico literário Otto Maria Carpeaux. Tudo isso graças ao talento e inventiva do poeta-autor e do poeta-receptor, a ponto de transformar o que não é veraz em pleníssima verdade individuada (do autor) que pretende convencer o receptor sobre tal ou qual assunto ou temática. É este exercício do sentir que nos permite adentrar ao território da felicidade dimensionado pelo conjunto textual, tudo assentado no resultado psicossomático da palavra em sua investidura rítmica e estética, por seus significantes e significados, com a reprodução e/ou a produção dos mais variados efeitos sensoriais através do andamento rítmico e cognitivo peculiar à poética. No reinado da Poesia tudo é permitido, desde que se consiga chegar ao belo estético e a consequente sensação de bem-estar para com o mundo circundante. Afinal, é a Poética o bálsamo para os mais variegados males da criatura humana, do nascimento à finitude individual, tomando o que sobrevier como elemento atemporal, ainda que não se obtenha a tão cobiçada perenidade. Vinicius tratou dele em relação ao lírico-amoroso: “... Que não seja imortal, posto que é chama, mas que seja infinito enquanto dure.”. Isto posto, descubramos na palavra poética a efemeridade de estarmos vivos e ágeis para a descoberta do coração do Outro pela palavra em sua indumentária de gala travestida para a festa da convivência. E mais: que seja o crepitar do fogo-fátuo do entendimento entre os companheiros de jornada.

MONCKS, Joaquim. A VERTENTE INSENSATA. Obra inédita, 2017/21.

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