INFLUÊNCIA DO rOMÂNTICO PORTUGUÊS ALMEIDA

GARRET NA OBRA DE FRANCISCO LOBO DA COSTA

INFLUENCIA DO ROMANTICO PORTUGUES ALMEIDA GARRET NA OBRA DE FRANCISCO LOBO DA COSTA

Abordagem dos poemas: Barca Bela – Almeida Garret

Remador da Barca Fria

Francisco Lobo da Costa

O Romantismo foi introduzido em Portugal por Almeida Garret em 1825 com a publicação do poema Camões e estende-se até 1865 quando se instala a reforma realista. Durante esses quarenta anos três são as configurações estéticas românticas.

1ª FASE

ALMEIDA GARRET –

ALEXANDRE HERCULANO – 1825 a 1838

Garret, o introdutor, o verdadeiro realizador do ideal estético da escrita romântica. Iniciou também o teatro romântico.

Herculano, romance histórico e historiografia.

2ª FASE – Ultra – romantismo

SOARES DE PASSOS

CAMILO CASTELO BRANCO – 1838 a 1860

3ª FASE – TRANSIÇÃO PARA O REALISMO

JOÃO DE DEUS

JÚLIO DINIS – Década de 1860

João Batista da Silva Almeida Garret nasceu na cidade do Porto em 1799 e morreu em Lisboa no ano de 1854. O contato de artistas portugueses com o Romantismo inglês e francês favoreceu o surgimento de obras inovadoras, como o poema Camões de Almeida Garret, considerado o marco introdutório do Romantismo em Portugal. Essa obra foi publicada na cidade de Paris em 1825, quando o poeta se encontrava exilado.

O poema, apesar de ser considerado o primeiro texto do Romantismo Português é, ainda, fortemente marcado com traços da tradição clássica como formalismo, vocabulário culto, racionalismo, contenção de emoções.

A inovação pela qual é responsável consiste muito mais na abordagem do tema – a vida de Luís de Camões – suas aventuras e seus sofrimentos – do que na renovação da linguagem.

Como lírico, nosso enfoque de estudo, a carreira de GARRET teve três fases: a anterior aos exílios, anterior também à iniciação romântica; a fase de iniciação romântica e plena maturidade artística. Documentos representativos desta época: Fragmentos, Retrato de Vênus, Lírica de João Mínimo, Fábulas e Contos, Odes Anacreônticas, primeiro livro das Flores sem Frutos e algumas tragédias; à segunda correspondem os dois poemas Camões e Dona Branca; à terceira Folhas Caídas.

Vamos nos ater à terceira fase - obra Folhas Caídas- onde se encontra o poema - Barca Bela- que teria inspirado Lobo da Costa a escrever seu magnífico poema – Remador da Barca Fria.

BARCA BELA

Pescador da barca bela,

Onde vás pescar com ela,

Que é tão bela,

Ó pescador!

Não vês que a última estrela

No céu nublado se vela?

Colhe a vela,

Ó pescador!

Deita o lanço com cautela,

Que a sereia canta bela...

Mas cautela,

Ó pescador!

Não se enrede a rede nela,

Que perdido é remo e vela

Só de vê-la,

Ó pescador!

Pescador da barca bela,

Inda é tempo, foge dela,

Foge dela,

Ó pescador!

Barca Bela uma das obras-primas da lírica de Garret, resumidamente, demonstra como tema romântico a Natureza e o Amor, comentários sentimentais e divagação lírica sobre a paisagem, contemplando o luar, o mar e analogia com a vida.

Um poema lírico de extrema sonoridade que inspirou a criação de uma música –fado- como não poderia deixar de ser - para seus belos e melodiosos versos.

Inspirado nesse belo quadro Lobo da Costa compôs Remador da Barca Fria:

Remador da Barca Fria está inserido na obra FLORES DO CAMPO – prosa e verso – Editada por Francisco de Paula Pires primeiro e mais importante compilador da obra lobiana. Resgatou a maioria dos poemas publicados em jornais ou em mãos de particulares.

O ano de 1904 aparece no termo de edição, mas na capa e num artigo inserido no livro consta a data de fevereiro de 1905. Supõe-se que o livro tenha sido impresso em 1904 e, em 1905 tenham-lhe acrescentado o artigo ao final do livro e colocado a capa.

Encontra-se na contracapa o logotipo da tipografia da Livraria Comercial, deduzindo-se que a impressão tenha sido em Pelotas.

Teria Lobo da Costa dezenove anos por ocasião do falecimento de Garret ( 1854) comprovando o fato de que ainda muito jovem lia, apreciava e estudava os autores românticos da época, principalmente os portugueses, como podemos comprovar através da presente análise.

Diante deste contexto e seduzido pelo tema que vinha de encontro aos seus sentimentos Lobo escreveu o rico poema:

REMADOR DA BARCA FRIA

Remador, nessa barquinha Prateada pelo luar,

Onde vais que assim o mar

Afrontas, ó remador!...

Brilham ondas de esmeralda

Ao níveo noturno sol...

E mortalhas de cambraia

Cobrem o lívido arrebol.

Assim no fluxo dos cabelos

Cheios de aromas de amor...

Brilhavam, outrora da bela

As sensitivas em flor.

As margens eram serenas,

Era a viração sutil,

E uma barquinha veloce

Bordava o lago de anil.

Tripulante minha vida

Já se ofegava de amor!...

Pérolas luzem sublimadas...

Rema, rema, remador...

O parcel mostrava os picos

Na cor morta do gerez...

A barquinha larga os panos

Flor aberta em frio mês.

Dentre as águas titubeantes

Surgiu a Deusa do amor...

A sereia, foge dela,

Foge dela, remador

Considerando algumas observações, podemos dizer que:

Os dois poemas – o de Garret e o de Lobo da Costa – são bastante diferentes, mas também apresentam alguns caracteres paralelos que autorizam a presumir que o autor romântico português tivesse influenciado o poeta pelotense.

Garret apresenta, desde o início, um quadro tranqüilo tendo como personagem um calmo pescador com sua barca bela que é indagado sobre seu destino.

No quadro seguinte é advertido dos perigos da natureza que o cercam. Sua tarefa vai se tornando mais tensa à medida que surge o canto da sereia que, conforme a lenda grega, seduz os homens através de sua bela voz, atraindo-os para o fundo do mar causando, simbolicamente, sua ruína e morte.

No ultimo quadro é alertado a fugir.

Inda é tempo, foge dela

Foge dela

Ó Pescador!

Esta é a metáfora que Garret, como galanteador que era, utilizou para definir os sentimentos que deve ter experimentado nos braços de algumas sereias-mulheres – fugir - para precaver-se de pesares e desgostos.

É justamente esta alegoria colocando a mulher como traidora - que aparenta ser meiga, mas é perigosa - que se adapta à situação do poeta e serve de inspiração para Lobo da Costa compor seu lindo poema Remador da Barca Fria.

O nosso poeta, como todos românticos, cultivava o sentimento de descrente da vida, incapaz de superar as dificuldades. Utilizou as imagens da natureza, tal como Garret, refletindo seu estado de ânimo e simbolizando seu mundo interior.

A região em que vivia, interior do Rio Grande do Sul, exuberante vegetação, a fauna local, acidentes geográficos, os seres marítimos ( remador # sereias) evocados, participam da expressão do universo afetivo, parceiros e co-autores de sentimentos realizados e idealizados. Esta percepção encontramos no poema Remador da Barca Fria.

No primeiro quadro temos o remador afrontando o mar, cena mais contundente, pois os termos remar e afrontar são mais forte que pescador e pescar. A seguir nos coloca as sensitivas em flor nos cabelos da bela, enquanto as margens eram serenas.

No quadro seguinte a tripulante da barca era sua vida, ofegante de amor.

Descreve lindas cenas: E mortalhas de cambraia

Cobrem o lindo arrebol.

Mais adiante:

A barquinha larga os panos

Flor aberta em frio mês.

Alegoria muito rica que remete a imagem aos nossos olhos e nos permite vislumbrar o instigante cenário.

E diretamente compara a sereia com a Deusa do amor...

Disfarçada alusão à figura feminina.

Da qual devemos fugir.

Garret apresenta em seu poema sonoridade harmoniosa e contemplação.

Lobo nos brinda com belíssima descrição da paisagem, com mais efeito visual. O “ eu” romântico e apaixonado mais presente. Coloca sua vida como tripulante da frágil barquinha que navega em águas frias e ameaçadoras.

Inalva Froes
Enviado por Inalva Froes em 05/10/2020
Código do texto: T7080366
Classificação de conteúdo: seguro