DAS PERDAS E DANOS

Todo poeta é um visionário, dizem os doutos teóricos humanistas, o que equivale a dizer: antevê para além de seu tempo. Compareço, agradado por ainda estar nesse grupo, sempre procurando praticar ações convenientes e necessárias para o bem da humanidade.

Integrantes desse universo, somos seres em transição, portadores de impressionante fragilidade e sobre a qual temos informações ainda insuficientes, à exceção de alguns gênios da psique em períodos esparsos.

Como boa parcela de nós sabemos, o texto poético geralmente não tem destinatário definido ou grupo prioritário, destinando-se a servir ao indistinto espírito humano onde ele desejar e/ou estiver, ainda mais quando perceptível sua solicitude.

O mais incrível é quando o mundo dos fatos – a realidade – cria os seus socavões, surpresas, tormentos íntimos que se acachapam sobre o dia a dia e o texto poético se aplica quase que integralmente aos quintais do mundo fático e o poema se ajusta como uma luva sobre os fatos.

Parece ter sido escrito diretamente para o poeta-leitor – o receptor – aquele que focou o seu olhar sobre a sugestão textual que está proposta nos versos de uma peça poética. E uma sombra disforme toma conta de ser, de sua morada, de sua palavra e atos destinados a tocar a vida como ela se apresenta.

Enfim, o leitor busca respostas para suas inquietações pessoais. Ao seu tempo de viver, esta é a função dos arautos. dos antevisores. E o badalar dos sinos de seu alerta continua a ressoar enquanto o idioma em que foi escrito permanecer vivo e inteligível.

Como corolário desta mesma proposta entendo que a morte não é o fim de tudo, e sim, apenas a extinção da carcaça pessoal finita. A anima persiste em sua saga, agora sem o invólucro da matéria vital que permitia o respirar, o falar, o fazer e o andejar neste mundão tido por muitos como divinal.

Dia desses, num acontecimento recente, o do pai que assiste impotente – como em todas as mortes – o passamento de seu filho, assim me manifestei na rede social: que o Absoluto te guarde e proteja nesta amarga e soturna hora de perdas.

Terás, agora, no seio familiar, maiores responsabilidades: a de utilizar a experiência para consolar os mais jovens que, dentro de si dificilmente conseguem aplacar as dores provindas de perdas e danos, especialmente as que dizem respeito aos mais íntimos afetos.

Prepara-te! O Absoluto, em quem talvez acredites (ou o cries quando necessário), testa diuturnamente nossa resiliência. Porque, ao fim e ao cabo, não somos pedra, e sim, a emoção que bole profundamente, a todo momento, o mecanismo racional.

É importante acreditarmos na espiritualidade. Cuidemo-nos de todos os sobressaltos, porque, pelo menos, ainda não somos máquinas.

MONCKS, Joaquim. A MAÇÃ NA CRUZ. Obra inédita, 2020.

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