Lereia de negra véia
O negro tem histórias pra contar, como no conto de “Casos de Minas” do autor Olavo Romano em sua quinta edição da editora PAZ e TERRA quando diz em:
Lereia de Negra Véia
"Ah, meu fio, a véia aqui já viu tanta coisa! Pelejô dimais, labutô um colosso. Uma campanha, essa vida. Mas num fui sempre catadêra de papel não. Tive meu bom tempo, pois sim!" dizia ela, "Tive até no estrangêro. Trabaiei na casa de gente importante, de prefeito e de parente de governo" - como se estes fossem alguma coisa, digo eu e dou risadas -, "Morei na casa do dono de São Paulo, um tal de sô Shimite, sócio do Matarazzo. Gozava de toda consideração. Era só, Zefa pra cá, Zefa pra lá. Tinha até garrafa de vinho no quarto só pra mim. Onde é que já se viu empregada, ainda mais preta, beber vinho nessa nossa capitáá? Pobre hoje em dia bebe vinho algum? Quá-o-que. Bebe nada, meu fiii. Um dia, na hora da limpeza, achei uma História Sagrada grandona e grossona assim. Peguei o livro e danei a ler. Uma beleza que só vêno. Aí o patrão discubriu, e quem é que disse q´eu tive tempo de escondê? Me pegô no sufragrante, mas num raiô comigo não. Achô foi graça do meu susto e acabô me dano o livro de presente. Aí eu li tudo, no sossego, de consciência limpa. Li desde o principinho. Desde a criação do mundo". Mas enfim, “causos a parte”, suas raízes, seu passado sofrido, é real, mas também muito, muito alegres. É! O negro chora, mas também sorri. O coração negro também pulsa; corre o sangue da vida em suas veias, repito. Aprendemos com eles, com sua história, com seu passado sofrido e escravizado, como também com suas vitorias e conquistas. Cor que alumia e nos faz conhecedores, revela a grandiosidade do ser que somos independentemente da cor ou raça. Seja negro, seja branco, seja o azul do céu ou dos mares, seja os verdes das matas e florestas, seja o branco das areias claras e cristalinas, seja a multicor das borboletas, a alma é a mesma.