FOTO DA MINHA AVÓ
FOTO DA MINHA AVÓ
A minha avó Olívia nos seus 83 anos, convalescia de Angina a beira do seu leito, tendo dado a luz 13, filhos, dos quais sobreviveram nove deles.
A sua estatura de 1,60 m, magra de pele morena, os seus olhos puxadinhos lembravam uma andina, carimbando a sua prole como filhos legítimos. Casou-se aos 17 anos e moraram na Fazenda 7 de abril, propriedade do seu sogro. Viviam em plena Monarquia, sobre a liberdade dos escravos que servia como colonos na Fazenda. Muitos deles pediam a minha avó que costurasse camisa para o seu trabalho, mas como ela não sabia coser e não querendo negar o favor solicitado, pedia a eles que trouxessem as suas camisas imprestáveis, e desmanchando-as fazia de molde para os novos tecidos.
Voltando a foto da minha avó, ela trazia no lóbulo das orelhas um par de brincos em Rubi, rodeado de brilhantes, que personalizavam a sua fisionomia. O seu cabelo branco puxado para trás, formando um coque enfeixado com fivela de osso, destacava aqueles brincos tão característicos da sua personalidade. Um rosto magro abatida e pensativo, dizia respeito dos seus anos vividos, sepultados os seus filhos, como quem já tinha a sua missão cumprida.
Celebraram os seus sessenta anos de casamento, numa festa digna de Bodas de Diamante, com Missas em todos os altares do corpo da Igreja Imaculada Conceição, ocorrendo no Altar Mor o casal ajoelhado sobre o genuflexório assistiam à missa nas suas intenções, ao som do Coro Azul, da sua filha Conceição que tocava no órgão as músicas Gregorianas.
Recepcionaram os seus convidados na sua casa toda coberta de lona verde, providenciada pelo buffet, que sérvio almoço para mais de cem convidados. Tudo filmado em 16 mm, registrado para a posteridade.
Faleceu em 1960, deixando o meu avô viúvo até 1968, quando a encontrou em lugar inserto e não sabido, junto aos seus rebentos que nos deixaram com os seus filhos, primos unidos e festejando o passado distante, cheio de lições, tradições que arborizam a genealogia dos Ferraz.
Chico Luz