POR QUE VOCÊ NÃO SAI DA JANELA?

Fico impressionada quando passo, diariamente, no final da tarde, pela rua Bento Gonçalves, em Passo Fundo, e o vejo debruçado na janela. Resta-me o murmúrio do silêncio encorpado de mistério. Como Maria Helena Latini retrata, Olho a janela: / a vida pulsa / na plácida paisagem”.

Ouço história que dizem do seu passado. Em minha visão, você ousa alcançar a paisagem onde pode encontrar o lugar da verdade sem se importar em retornar, como consolo no mastigar a essência do tempo.

Sinto a sua sombra como a necessidade de ali estar, faça sol ou chova. Tento tematizar sua essência através do seu triste olhar. Seria inverter o sentido da vida como parte do seu próprio ser em sua verdade, ou determinar o tempo diluído em dias pela permanência na janela? Qual será a sua verdadeira história? Enquanto na janela, debruçado no parapeito, cria asas? Será que me vê? Latini expressa, “... Minha janela é mais/ um buraco / geométrico /nessa cidade...// Vezes penso: / Não quero mais o vício da paixão”.

Na medida em que apenas o vejo na janela, especulo os motivos da sua diária contemplação: ser confinado em pensamentos e na essência de sua vida amarrada. Para Murilo Mendes, “O homem foi criado para se conhecer circunscrito / seus ângulos / e arestas o definem”.

O fato é que a sua existência me impõe o acontecer, impregna-me da configuração do destino e determina o sentido da sua essência em minha verdade: por que você não sai da janela? Nas palavras de Leonard Cohen, “Quando olho os prédios de madrugada / juro que vejo um rosto em cada janela / que me olha de volta...”.