ABRAÇO PASCAL

– a Eduardo Jablonski, tão humanamente analítico.

O desafio de fazer o poema com Poesia (que é sempre algo que exaure os mais íntimos neurônios) contamina-me daquele mínimo que Cortázar chamava de “essencialidade incontaminável da poesia”. É este o prêmio de consolação: saber que redescubro a precária criatura que se beneficia com o sopro da vida. Que nada mais é do que o cotidiano polimento da pedra bruta de que sou feito, no intuito de ficar esteticamente melhor construído. Assim durmo melhor, acreditando que enganamos a circunstância de estar vivo. E eu, mais precário do que nunca, sentir-me um verme enclausurado, neste ambiente de reflexão pascal, em clausura domiciliar, a fugir do Corona Vírus, outra microscópica larva que poderá estar contida na gotícula de tua fala próxima, mesmo que ainda haja nela a anima essencial do poema, que é sempre uma mediata saudação à vida que segue.

– Do livro inédito OFICINA DO VERSO: O Exercício do Sentir Poético, vol. 03; 2017/20.

https://www.recantodasletras.com.br/artigos-de-literatura/6914654