A URGÊNCIA DO AGIR

O lírico-amoroso nos encanta. Invariavelmente o amor e a flor, na feminina construção imagética que exsurge da recepção do poema, como se a proposta poética se resumisse somente a estes símbolos; não mais. Só que nos jogos do amar (dos quais a Poética pode vir a fazer parte) minimamente ocorre o ato de pensar, devido à parte do corpo que não raciocina. Ruge o prevalente desejo, cuja urgência é repleta, excludente, egocêntrica. E disso resulta um pretenso exemplar poético muito rarefeito em sua amplitude e/ou abrangência; bem menor do que o patamar a que a Poética realmente pode chegar a exprimir (quando a isto se propõe), no plano da reflexão. Todavia, quem não gosta de fazer do amor a sua clava de momentânea e explícita felicidade, mesmo que o poema nasça para um destinatário a quem não conhecemos, visto que se conversa com o amor idealizado e o sonho de o ter como verdade? Ninguém faz poema para o amor que se tem, e sim, para aquele que se não tem. E urge tentar pegá-lo a qualquer preço.

– Do livro inédito A VERTENTE INSENSATA, 2017/19.

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