A paixão para Fernando Paixão - O que é poesia.

Paixão afirma em seu livro “o que é poesia”, que a “poesia se caracteriza

essencialmente pelo uso criativo e inovador que se faz das palavras, expressando a subjetividade”, mostrando o relacionamento entre a linguagem e a sociedade, analisa também a função do tempo, a poesia e o seu ritmo, a imagem poética e o poema, como fonte de prazer, ele procura nos passar a idéia de como acontece o momento da

poesia e o efeito que ela tem sobre o poeta e as pessoas a sua volta.

Para ficar mais próxima do ser humano, Paixão faz um regresso ao passado da poesia, para uma reflexão histórica da evolução e mudanças de como utilizar seus mecanismos de comunicação poética para levar textos e experiências da prática humana através dos tempos, citando, por exemplo, quando Raul Seixas colocou em sua música Prelúdio um pequeno trecho que diz “sonho que se sonha junto é realidade”, retirado da poesia de Cervantes: “Quando se sonha sozinho é apenas um

sonho. Quando se sonha junto é o começo da realidade”.

Ao começar o capitulo “Linguagem tem preço”, o autor afirma que as palavras são a união de letras sensíveis, portanto, sozinhas não podem ter conteúdo concreto, porém servem de caminhos para a expressão do pensamento humano, transmitindo um conhecimento expresso em sentimentos, pressupostos, subjetividades, conhecimento e intervenção na realidade, quer seja concreta ou abstrata. Como as palavras chegam ao cérebro a partir dos instintos e imagens caleidoscópicas, a ação

do poeta transformá-las em textos é sempre imprevisível, dependendo muito do momento, estímulos, desconfortos, indignações, afetividade ou outros sentimentos, expressos em parágrafos, frases, ou até mesmo numa palavra que seja capaz de transmitir a mensagem ao leitor, que poderá ou não seguir o seu raciocínio e direção, ou até criar traduções e entendimentos, de acordo com os seus interesses ou pensamentos.

Para o Poeta não está em jogo o que é verdade dos fatos, pois o que importa é a exposição dos seus sentimentos e visão a respeito do mundo, quer seja concordando com o existente ou recriando significados através das palavras, em textos que podem traduzir um cotidiano ou expectativas do que ainda estará por vir, ou modificando o que

havia sido criado pelo homem, pela vida ou pelos espíritos vagantes do universo, em contextos diferentes, de forma criativa e inovadora, tendo na subjetividade do poema a expressão com a marca registrada.

As palavras tinham um uso de caráter poético no passado, mas nos primeiros períodos da história os homens foram divididos e separados pelo poder econômico em escravos e senhores, em suas classes sociais, ficando a poesia restrita aos poetas, com a finalidade de mudar a maneira de pensar da sociedade a respeito da visão do mundo e do uso das palavras, o que projetou o seu uso para diversas atividades,

desde a política, propaganda, comunicação moderna, tendo como fim a busca de resultados, quer sejam econômicos ou sociais, sem a necessidade de parâmetros, emoções ou objetivos literários, passando a ter mais uso a linguagem verbal, ficando a poética desvalorizada e até mesmo taxada de inadequada para nossos tempos. No entanto, os poetas continuam mostrando em palavras a sua inquietude e o desejo de

liberdade, quer seja de expressão, ou de impressão dos sentimentos e desejos.

A inspiração do poeta surge a qualquer momento, quando o inconsciente julga necessária a intervenção das palavras, para registrar os seus sentimentos e ideias expressas da forma e veículo que for mais conveniente e estiver à sua disposição, e esse instante criador é um momento único, lutando pela vida, para a vida e com a vida,

num processo de criação inexplicável, mas sempre em busca de realizar seus sonhos de impressões, gerando a vida através das palavras, livres da repressão, da alienação e das injustiças sociais, pois também serão temas de novas investidas poéticas.

Paixão diz o que entender a poesia moderna é um grande desafio dos leitores componentes de grande parte da sociedade, que pelo fato de vivermos num mundo de muitos compromissos, poucos estão lendo poemas e mesmo os que o fazem, o fazem de forma muito rápida, como se estivesse lendo um jornal, não percebendo as paisagens, a dança das letras e a mensagem principal, usando muito o poder de síntese, o que prejudica o entendimento, a reflexão e a crítica dos temas expostos nos

poemas, agindo apenas como um consumidor, habituando-se à letargia mental, acostumados a cumprir o que lhe mandam fazer. E só.

A poesia é um instrumento de aprendizagem, mas grande parte da população não está tendo acesso, estando disponível apenas para uma pequena parcela privilegiada da população, apontada como um sério problema educacional por Fernando Paixão, que apresenta quatro tempos que se cruzam no momento do poema, revelando a sua concepção na questão temporal. São eles:

O tempo histórico-social presente no contexto ideológico do poema;

O tempo pessoal do individuo do poeta, com suas experiências, existências e a sua vivencia na linguagem, que tem sido acumulado durante os anos;

O tempo das imagens que aparecem no poema, onde aos poucos são revelados que o poeta tem um universo simbólico; e

O tempo rítmico da frase, onde o leitor é estimulado a um movimento imaginário no pensamento.

O poeta tem o poder de criar uma ponte subjetiva entre o universo simbólico e o real, passando a se relacionar, simultaneamente, na realidade e na ficção, possibilitando combinações dos quatro tempos assinalados por paixão, sintetizados no tempo poético, destacando o papel do devaneio na poesia, que pode ser utilizado com liberdade de criação e ideias sobre o que seria a realidade no tempo mental desejado.

O autor termina o livro definindo que o ser poético não equivale somente a ter sabedoria para arranjar palavras, organizar versos, mas principalmente saber britar e jardinar fenômenos no mundo da vida, utilizando os principais elementos do texto que são a amizade, as diferenças, a solidariedade e o amor, como uma possibilidade que

esteja ao alcance de todos.

Portanto, agora já podemos responder O que é poesia? A poesia é uma paixão para Fernando e para os Poetas.

REFERÊNCIA:

PAIXÃO, Fernando. O Que é Poesia. São Paulo: Brasiliense, 2002.

(Trabalho apresentado à Universidade Estadual de Feira de Santana, no Programa de Pós-Graduação em Literatura e Diversidade Cultural, para Especialização em Estudos Literários )