UM OUTRO MUNDO É FACTÍVEL

Paulatinamente, a gente vai aprendendo a duras penas, porque o assunto é deveras inusitado, e até o momento presente impossível de comprovação científica. Também é muito pouco alvissareiro para o Brasil um aprofundamento da temática ‘a gênese do fazer literário’, visto que há uma restrita literatura em português no universo livreiro, especialmente no tocante ao nascimento da poética. Como eu não falo nem leio com perfeição noutros idiomas, especialmente o inglês, o francês e o alemão, de modo a poder contar com menor risco de erro no território das capacidades específicas tendo em vista ao alargamento de horizontes, tenho de me servir da síntese do trabalho dos tradutores sobre obras versadas nos mais variegados idiomas do mundo ocidental (temos raríssimas obras traduzidas oriundas do mundo oriental) e constato à leitura de suas abordagens quanto ao tema, que o conteúdo não é estritamente aquilo que o autor questionador registrou e divulgou através da obra em edição original, e sim, a simbiose do que diz o autor e o consequente acréscimo do que resultou do processo de tradução a cargo de terceiro. Sinto falta deste preparo a que não me pude tecer linguisticamente. No entanto, procuro passar o que, pacienciosa e humildemente, com intenso trabalho de pesquisa e de experimentação pessoal sobre o assunto, vou conseguindo ajuntar na longa estrada de mais de 45 anos de estudo investigativo da Poética. Por certo, morrerei tentando entender e compreender no que resulta da ambientação filosófica combinada com o genuíno fato da geração no território-raiz da psique, a ponto de se poder conceder afirmativamente de que a Poesia é a voz do Mistério e que nós somos os seus escolhidos arautos. Finalizando, é preciso lavrar, mais uma vez com veracidade e muita pertinácia, a citação que é derivada da narrativa de Platão sobre o filósofo Sócrates: “Só sei que nada sei”. Eu, mais humildemente ainda, aturo – por conivência explícita – ser um condenado a pensar sobre a matéria da vida e sua esplendorosa transfiguração no amplo universo da Poética. Por ela somos menestréis da Estética e, como todo o artista, aqueles incríveis e insensatos que acreditam que “um outro mundo é possível”. Construamo-lo!

– Do livro inédito OFICINA DO VERSO: O Exercício do Sentir Poético, vol. 02; 2015/19.

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