Pés que Brilham; Cor que Alumia
Novamente aqui estamos. Digo até mesmo no plural, pois são dois sentimentos que podendo assim considerar, caminham conosco; uns livres, outros infelizmente presos, escravos em suas emoções e pensamentos, que adverso aos requisitos do Grande Arquiteto, vivem com suas mentes incapazes de reconhecer a grandeza do ser que igualmente somos, indiferente à cor, raça, credo ou religião, que certamente seria um outro assunto a ser abordado. Na verdade, eu pensei, pensei, e tornei a pensar. Andei para lá, andei para cá, por três vezes levei a mão ao queixo, olhei da janela, vi os traçados como de um colorido lápis preto e branco envolto às montanhas enverdecidas e refleti se deveria de fato escrever sobre esse assunto, haja visto, tamanha repercussão que poderia gerar nesse mundo “patriarcal”, face as desigualdades sociais que ao longo dos tempos temos assistido e de tão complexo, por ora polêmico, poderia ser que ninguém interessaria lê-lo, quando lembrei-me de uma ilustre frase do conhecido escritor e professor de história da Unicamp Leandro Karnal quando disse que: “se recuso um texto porque acho que não será lido por alguém, é porque dialogo mal com minha vaidade, e, nas suas palavras ainda, a vaidade e o orgulho constitui na tradição religiosa, o primeiro pecado, e sendo assim, pra não tornar-me um pecador em extremo, aceitei mediante minha livre consciência, escrevê-lo; esse livro que, e faço aqui as palavras de Abujamra quando diz que “pode não ser uma janela aberta para o mundo, mas certamente é um periscópio sobre o oceano do social”.
Mas enfim, considerações à parte, novamente aqui nos encontramos, eu e meus dois gloriosos sentimentos que de acordo com o Silveira Bueno, nada mais são que o ato de sentir; sensibilidade; paixão; finalmente, minhas livres émotions et pensées, ou “emoções e pensamentos” caminhando de mãos dadas, numa satisfação ainda muito maior, indizível quem sabe? Como regidos pela batuta da Verdade e Justiça, a exemplo do Regente Maior da Vida que do alto comanda na terra com olhos de amor e compaixão, essa fantástica, sublime e contraria ao que deveria ser, insubmissa, corrupta e infelizmente, destroçada orquestra multirracial, quando de sua sublime sensibilité, na língua do sorriso - francês – ou, sensibilidade pelo coração da alma, numa louvável exposição do grandioso valor dos “frè yo nwa” - no Crioulo Haitiano – idioma – ou “irmãos negros”; na apresentação do grande valor dos irmãos negros, a comunidade negra, que indiferente ao seu brilhante colorido onde se destaca às demais, se torna a grande luz da história; a comunidade negra que nada mais é ou possui, numa gloriosa rima inspiradora “a bravura de um povo lutador”, como exposto no quadro a óleo, uma aquarela de Jean-Baptista Debret -1768/1848, famoso Debret e as chamadas “As Escravas de ganho”, que segundo a amostra, passavam o dia nas ruas vendendo suas frutas e doces, a quitandeira de Ferrigno, que na verdade não oferece seus produtos, mas permanece sentada e cansada, onde o painel mostra uma luminosidade ardente incidente sobre a figura daquela quitandeira para acentuar dessa forma, o tom de sua pele. O seu corpo naquela aquarela, possui um volume e se destaca na cena. É um corpo forte, possivelmente acostumado com o pesado serviço braçal. Mesmo que a intenção do artista tenha sido a de se utilizar de uma imagem, ora sentimental, daquela mulher negra – a Quitandeira – para angariar simpatias em premiações de salões, como sugere Maraliz de Castro Vieira Christo (licenciada em história pela UFJF e mestre pela UFFluminense), podemos entender o que vai além dessa quitandeira: a luz baixa, os tons terrosos, o lugar pobre, os poucos objetos como ervas e chinelos em desordem, sugerem um futuro sem perspectivas ou pouco promissor.