SERRANIAS DE CARRAZEDO E PEDRAS SALGADAS

Aqui neste Portugal de Trás-os-Montes, algum vento e o calorzinho de 25 graus, no final de julho de 2018.

Céus claros de imenso azul e de translúcido firmamento em noites de estrelas nuas, sobre o árido solo de pedras tão imensas quanto. A nua terra aqui bebe pouco, todavia o povo tem sempre o vinho à mesa, messe de agradecimento diuturno e muito trabalho. Homens e mulheres simples, acolhedores, tez queimada, sorrisos nos lábios.

A cabeça do forasteiro dá muitas voltas em vias asfálticas que andam em círculo, abraçando a cintura dos cerros amarelecidos em que habitam uvas, castanhas, avelãs, lebres, coelhos silvestres e um que outro bicho rasteiro. As pedras têm olhos fixos para o alto e tudo o que se move se assusta com os modernos espantalhos-de-pás-ao-vento no cimo das elevações.

Essa é a tessitura da modernidade nas humanas criaturas para vencer o calor e aumentar o conforto, especialmente nas invernias e nevascas do frio europeu.

Aqui os geradores eólicos de energia elétrica comprometem a paisagem agreste e bucólica, porém poupam os rios e reservatórios, minoram o desmatamento e as reservas minerais que deixam crateras nas galerias subterrâneas e formam um cemitério ao rés-do-chão, como comumente acontece nos pagos sul-americanos e nos de minha brasileira pátria do sul do mundo.

Enfim, é a tal de energia “limpa”. Aos olhos densos de armaduras, de templários, quixotes e o espírito de El Cid, o Campeador, na fronteira de Espanha, o novo mundo em mim saltita como um cabrito montês. O Rio Grande de Deus vem à minha letargia telúrica quando vejo meia dúzia de reses pastando placidamente a grama alta nativa queimada pelo verão europeu.

E o meu ancestral inglês (Monck ou Monk) se manifesta com uma alegre canção do tempo de João-Sem-Terra, quando o "Bill of Rights", lá por 1215, troava os seus avisos para a realeza: – Uni-vos para o bem do reino!

E o proletário brasílico, suburbano de ontem, hoje metido a poeta, embebido das memórias do velho mundo, busca o prazer e goza o Ego, na aldeia global do séc. XXI, contando os euros e outras patacas negociais.

Bom que a possível convivência do Todo em seus variegados idiomas e ações, importasse no amadurecimento do humano ser, para que todos pudessem atender as suas básicas necessidades e pudessem viver em paz, tritura entre dentes o condenado a pensar, ainda com as mesmas ânsias seculares da Carta de Achamento do Brasil. E nele pervive, se remoendo, contorcido, o espírito do indígena sul-americano.

MONCKS, Joaquim. A MAÇÃ NA CRUZ. Obra inédita, 2022.

https://www.recantodasletras.com.br/escrivaninha/publicacoes/preview.php?idt=6707879