O FANTASMA DA ÓPERA – UM MITO (13) – PONTO SEM RETORNO
            Continuando a transcrição da palestra sobre a obra de Gaston Leroux, O Fantasma da Ópera, feita pela professora Lucia Helena, voluntária da Nova Acrópole, e que está disponível no Youtube, muito útil para nossas reflexões.
            Tem outra coisa que eu gostaria de chamar a atenção de vocês. Se alguém me perguntasse sobre esse filme específico, que foi feito sobre o musical, sobre o livro, qual a minha melodia predileta?
As melodias são idênticas, no musical e no filme, mas eu realmente tenho uma especial predileção pelo “Ponto sem Retorno”. É um momento onde quase que Raoul já tinha vencido, ele estava noivo de Christine, de repente no meio dessa peça teatral, ou seja, no meio do mundo, dos olhos, Eric faz uma aparição bombástica. Consegue vencer um pouco a verdade dela, ou seja, mata todos aqueles que se opunham e entra no palco do mundo manifestado e diz para ela: não tem volta, não tente voltar, a ponte se queimou, é um ponto sem retorno. Quanto tempo nós vamos esperar para sermos um só? Vem comigo, não olha para trás, vamos observar a ponte queimando.
Mas o problema é que ela tire ainda a experiência daquele outro mundo.
            Se vocês virem aquele livro que eu falei para vocês, do Bhagavad Gita, que mostra a guerra entre os vícios e as virtudes humanas, com a consciência humana no meio, que nesse drama é Arjuna, é como se Christine fosse Arjuna, com a sua vida sendo disputada por dois mundos. Eu poderia dizer que o “Ponto sem Retorno” é como se fosse um Bhagavad Gita. Ela está sendo puxada por ele, o Fantasma, e por outro lado puxada por Raoul e ela acaba hesitando, em voltar atrás. Então, a letra desse Ponto sem Retorno é uma coisa muito bonita. Ele vai dizer o seguinte:
Você me trouxe para aquele momento
Em que as palavras falham.
Para aquele momento em que a linguagem desaparece
Dentro do silêncio, vim até aqui, mal sabendo a razão.
Ultrapassou o ponto sem retorno, não há volta agora.
Nosso drama finalmente agora começou.
Já se foram as dúvidas de certo e errado.
Uma pergunta final.
Quanto tempo devemos esperar antes de sermos um apenas?
Quando o sangue vai começar a correr
E o botão adormecido explodir em flores?
Quando as chamas finalmente nos consumirão?
Ultrapassou o ponto sem retorno, o limiar final
A ponte foi cruzada. Então pare e observe-a queimar.
Agora não podemos mais retornar.
            É como se fosse um golpe de misericórdia que Eric dá. Acabou, agora você veio, não tem volta. Acontece que Raoul não desiste e novamente entra no palco, resgata Christine... então diante desse palco que é o inimigo final, Raoul, só restava a Eric uma coisa: matar Raoul. Matar as fantasias infantis dela, as paixões, as necessidades de status quo... ele tinha que matar Raoul senão ele perderia. E ele realmente tenta. Mas quando na cena final e quase matando Raoul, ele sente o quanto ela necessitava dessa experiência, o quanto ela estava disposta a sacrificar-se por Raoul, ele a entrega e vai embora.
            Qual foi o meu “Ponto sem Retorno”? O ponto em que eu decidi e não pude mais voltar? Que segui em frente sem olhar para trás?
            Acredito que foi quando a minha consciência reconheceu a importância do amor incondicional, que eu não poderia viver subordinado ao amor condicional, preso aos diversos preconceitos que ele produz.
            Foi quando eu resolvi que não poderia viver subjugado pelas regras do casamento, da família nuclear, da exclusividade dos sentimentos, principalmente o amor, com tudo aquilo que ele traz, inclusive o ato sexual.
            Foi quando eu decidi que poderia namorar com as amigas que Deus colocou no meu caminho, desde que fosse de interesse mútuo, sem coerção ou fingimento, e por ação da justiça, a minha esposa deveria ter o mesmo direito.  
            A partir desse momento foi como se o “Fantasma da Ópera” que vive em mim assumisse o controle de minhas ações, que me deu coragem para eu ir em frente, não ficar mais preso aos preconceitos.
            Agora eu vejo essa história com todo o simbolismo e me coloco no lugar de Eric, mas com um certo orgulho. Orgulho de ter obedecido à minha voz interna, que está mais sintonizada com Deus com o Amor Incondicional, e que eu fazendo assim me tornei um Fantasma da Ópera, instrumento da vontade do Criador, obedecendo à Natureza assim como Ele a fez, e tendo cuidado para não prejudicar o próximo, e ensinando a quem tenha boa vontade para também se livrar dessas amarras do falso amor, do amor condicional, do amor romântico. Mas, assim como Eric não teve sucesso com Christine, também não tive sucesso, até hoje, com quantos corações eu entrego a minha flor vermelha.