O desafio da solidão moderna
Acho que encontrei na leitura o melhor veículo para preencher certa solidão que desejo. Não sei se é bem isso o que devo escrever, mas parece que sinto uma vontade firme de revelar minha necessidade de distanciar-me dos absurdos que a vida moderna tem nos presenteado. Cansei de incomodar e de ser incomodado. A virtualidade dos dias atuais me ensinou a depender do eletrônico, talvez em nível de igualdade da ajuda humana. Comparação um tanto perversa, mas entendível e efetível nos dias em que vivo preenchendo a atualidade das coisas hediondas e das notícias más.
O mundo está tão perigoso de transitarmos nele que até as estrelas têm tentado esconder-se por trás da poluição do ar, como forma de, desconfiadamente, isolarem-se do resto das coisas da terra. Será mesmo assim? É o que penso. É o que sinto. Tomara que esteja errado meu raciocínio. Há desilusão no ar da vida. Isso mesmo: desilusão.
Já presenciei luares fantásticos em minha infância. Estrelas cadentes que maravilhavam meu olhar de criança, puramente inocente, buscador de sonhos e de aventuras como as da Terra do Nunca. Que pena que essas coisas se foram.
Não saio mais à rua nas horas mais belas do luar. O perigo ronda com mais firmeza nessas tais horas. A escuridão que animava o seresteiro e iluminava os poetas, parece abrigar os injustos. Nela se comete os piores crimes.
Até aonde chegaremos? Para onde estamos indo? O pior é que somos nós quem nos levamos. Temos escolhas. Os erros são dependentes de nossas ações. Assim, a conta a pagar será só nossa, também. A natureza, essa silente vítima de nossos desacertos, cairá sangrando sobre nossos ombros e nós, com ela, culpados de tudo.
O amor..., ah!
O amor anda desaparecido do coração do ser humano. Escondido. Parece que amar faz vergonha. Humilhar-se seja coisa para os fracos. Por quê?
Um velho passa e ninguém o ajuda. Uma gestante viaja em um coletivo lotado ao lado de um jovem sadio, sentado em sua poltrona e ouvindo seu headphone descontraidamente. Quanta coisa mudou!
O clima do planeta já deu seu grande grito. A força do Capitalismo Selvagem o desconsiderou e, parece, os Socialistas brigam para deter o mesmo poder daqueles, e continuar o plano mirabolante do domínio político e social dos seres que estão desaprendendo a amar ao próximo e até a si mesmos. Todos são inquilinos do mesmo universo físico. A bolha serve aos dois. O conluio é desafiador.
E nada de vermos a volta triunfal ao Tribalismo. Seria maravilhoso que isso acontecesse. A tecnologia está nos roubando as possibilidades de sermos felizes naturalmente. O progresso deveria ser mais respeitador em relação à criação e à criatura. Há dois brutos pesos e duas más medidas.
Nem falo muito da Fé em Deus. Conheço ateus que têm cuidado de reparar os pequenos danos que crentes desolados têm feito sem enxergar o mal que cometem a todos. E esses tais ateus não são poucos em suas ações em prol do bem-estar alheio. (Coletivo).
Temos mais deveres para com o planeta do que mesmo direitos. A covardia tem nos desafiado a descrermos nessas coisas. Somos fracos o bastante para não reconsiderarmos os valores do passado e retomarmos a vida saudável e respeitosa do outro passado decente e recente. Faz tão pouco tempo em que podíamos sonhar na escuridão das noites. Éramos tão felizes e nem nos dávamos conta disso.
Mas, quase tudo está sendo desfeito, o que é lamentável. A natureza tem chorado lágrimas de sangue, e nós, sorrimos pateticamente pensando que somos criadores ao invés de criaturas. Transformamos, mas não conseguimos criar do nada. Somos o nada do que não desejamos ou pensamos não ser.
Voltar a sonhar talvez não seja o mais difícil. Tenho tentado, mas há uma infame insônia nesse redespertar. É difícil. Uma ilha não é um continente.
Por isso resolvi abraçar-me com a solidão da virtualidade que nos traz, falsamente, o mundo para dentro de nossas casas e apartamentos. Acho que o leitor consegue entender-me. Lá fora corro muito mais risco do que trancafiado e vendo a “Banda” passar...
Solidão! Custe o que custar, sempre será solidão. Perder-se sozinho diante das grandes multidões é deixar-se ser infeliz e triste. A vida na atualidade tem retirado de nós o poder do passeio pelo amor, do amor, como amor!
Permanecerei com essa tal solidão de forma bem dosada. Ela não poderá ser maior do que todas as outras coisas, todos os outros sentimentos. Bem que gostaria de voltar a ser criança, esperar o papai Noel e a Fada madrinha. A criança possui um reino encantado em seu coração que não lhe permite descrer no que já o fazemos há dezenas de anos...
Leio muito!
A leitura tem me abastecido dos muitos passos que, fisicamente, estou parcialmente impedido de fazê-los com a segurança necessária. Ao invés de ir rezar no santuário, faço-o no silêncio solitário de meu quarto. Dele ainda consigo enxergar dezenas de estrelas.