COCHICHOS SEPTUAGENÁRIOS
Fico feliz que a poética e os seus entornos de espiritualidade sejam de tua predileção. Sim, eu estou setenário, mas ainda dá um caldo pra matar a fome. Algo como refeição de hospital. Mas continuo achando que o tempero é que salva a comida. E ainda gosto de comida apimentada. E continuo com este hábito de deglutir palavras como quem pratica a antropofagia. O estético humano ainda preenche-me as retinas, das quais defluem os requebros da "Garota de Ipanema", alegoria de Vinicius de Moraes, em nosso pico geracional. Continuo repetindo: "Olha que coisa mais linda, mais cheia de graça...". Também por isto a poesia, em mim, não morrerá jamais. É sempre uma condenação ao degredo, fumaça aos olhos turvos e memória farta. Sinto que vou morrer de cisma. Saudades, muitas...
– Do livro O PAVIO DA PALAVRA, 2015/16.
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