DELAÇÃO PREMIADA

(Moncks está devolvendo ao Universo tudo o que dele "apreendeu". Cláudio Gass, Facebook, 23Jan2016).

Eis porque sou um homem feliz e certo de que tenho sincera, humilde e modestamente contribuído com a arte da escrita, especialmente através do legado de prosas e poemas. Alguns amigos me lisonjeiam e estimulam a todo o tempo com ações que acabam perenizando até poemetos e textos que nada têm de especial, a não ser o visceral compromisso com o “dizer de dentro”, acreditando que é até mesmo possível regurgitar beleza estética num ato-fato compulsivo, espontâneo. No decorrer de mais de 42 anos de exercício da Poesia, de encantamento pelo Mistério através dos versos, do meio-criança, meio-bruxo (que me habita) pela palavra solta que nasce sujinha de sangue por vezes num parto a fórceps – dolorido – alguns diletos leitores e de dedicada amizade, recolhem a minha palavra e, em gravações prenhes de amor à arte poética, têm feito registros destes momentos únicos, porque poesia de circunstância, passadiça na garganta, portanto, a "vol d' oiseaux". Alguns desses escritos (à hora da transpiração) sequer conseguiram passar pelo meu crivo analítico e jamais foram publicados – e se acidentalmente o foram, jamais houve intenção de permanência por parte do autor. Gratíssimo aos amigos Cláudio Gass, que resgatou alguns poemas ao sair da boca, em 1995, e agora os traz ao efetivo nascedouro público, em vídeo no You Tube, também ao jornalista Anand Rao, que fez a recolha do que o alter ego do “poetinha” pensava naquele justo momento, acreditando estar sendo útil para o memorialismo de um país que pouco lê e assim consome os seus confidencialismos. Deitados ao ar tal uma emissora comunitária: o arauto em doido exercício da Confraternidade, palavra inflamada para saudar o dia a dia e louvar a vida. Estes dois repórteres da arte documentaram o momento e assim se tornaram tutores eventuais de minha palavra. Ponho-me de joelhos perante a memória vivificada e tento diminuir minha pena perante a posteridade...

– Do livro O PAVIO DA PALAVRA, 2015/16.

http://www.recantodasletras.com.br/artigos/5775903