Fim de caso

FIM DE CASO

Coisa bem triste é quando um caso de amor chega ao fim. Há que se apor uma questão aqui: na verdade o amor não termina. Se acabou é porque não foi amor, no máximo como disse o poeta Luiz Menezes “nos-sa história foi louco desejo, foi febre, foi beijo, mas não foi amor...”. Mesmo assim não é salutar se observar o fim de uma relação com todas as marcas e reticências que costumam deixar. O cancioneiro está reple-to de lamentações sobre esses fatos.

Os jovens de hoje não sabem namorar. Por serem mais pragmáti-cos, eles vão queimando etapas, perdendo o romantismo e deixando de viver os estágios da atração, passando pela paixão que se transforma em amor. Para eles vale mais o ficar, o pegar e, na primeira contrarie-dade fazer a fila andar. No tempo em que a minha geração viveu sua adolescência, lá pelos idos das décadas de 50 e 60 as coisas eram me-nos previsíveis e tinham mais graça. Não que não se pegasse, mas tudo obedecia a um ritual afetivo. Era comum aos namorados mandarem cartas, mesmo residindo na mesma cidade, pois os telefones eram ra-ros. Rapazes e garotas trocavam fotografias com dedicatórias melosas “para teus olhos minha foto, para teu coração todo o meu carinho”. Tem coisa mais bonita que isto? Hoje é só face-book, e-mail e instagram... Vocês já notaram que hoje os jovens não mandam flores para as namo-radas?

As separações, ou as “brigas” eram sofridas, ninguém queria que “a fila andasse”. A gente brigava, mas ficava a espera de algum sinal ou de uma mensagem de retomada. Mesmo assim, nessas rusgas se devol-via fotos, cartas, presentes como se quisesse apagar a memória daquele caso: “devolvi o cordão e a medalha de ouro, que ela me presenteou, de-volvi suas cartas amorosas e as juras mentirosas...”.

As músicas de hoje, onde impera o “sertanejo universitário” só fa-lam em cama e traição, como se isso – e só isso – sintetizasse uma rela-ção amorosa. Antes a coisa era mais inocente “rasgue as minhas cartas e não me procure mais, assim será melhor, meu bem, o retrato que eu te dei, se ainda tens não sei, mas se tiver devolva-me...”.

Um fim de caso sempre foi coisa demasiadamente dolorida e que ninguém quer passar. É triste ver uma relação de amor terminar sem perspectivas de volta, sem chances de explicar o que ficou pendente, sem pedir o perdão ou as desculpas que se faziam necessárias...

O pior era a seção de devoluções, em que velhas provas do ro-mance eram jogadas fora, caprichosamente destruídas, como se nunca tivessem significado nada. No rompimento eles faziam questão de devol-ver tudo: “só não pude devolver a saudade cruciante que amargura meu viver...”. É triste quando um caso de amor, seja pelo motivo que for, chega ao fim.

Antônio Mesquita Galvão
Enviado por Antônio Mesquita Galvão em 28/09/2016
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