Análise do Tempo Psicológico no Romance Memórias Póstumas de Brás Cubas
Vários contos já foram analisados quanto às suas tramas e, na tentativa de se fazer, detectou-se o elemento fundamental e indispensável em todas as narrativas: o tempo.
A obra de Memórias Póstumas de Brás Cubas feito por Machado de Assis foge totalmente do estilo que outrora existia nos romances urbanos de 1880 aniquilando totalmente os traços da escola passada, o Romantismo, que usava o tempo literário sempre em ordem cronológica, ou seja, dava o desenvolver das histórias sempre dentro de um organograma regido com anos, dias, horas. Isto passava uma sensação de previsibilidade ao desfecho do romance, trazia ainda um aspecto óbvio, lógico, sem surpresas e antigo. E mais, sempre terminando com heróis de bom caráter, tomando seu lugar de destaque ao fim do romance: salvando as pobres vidas ameaçadas por um tirano desalmado.
Este romance nacional não tem uma idealização romântica, a começar, é dado lugar a um tom pessimista-humorístico com um defunto mau caráter falando de tudo que aconteceu na vida dele e no mundo enquanto se dava esta vida a fim de criticar a burguesia da época juntamente com sua estrutura insólita que nada tinha a ver com os romances românticos, depois que os protagonistas passariam a se apresentar como anti-heróis, cheios de defeitos de caráter, mas com um ideal que, por mais contraditório que parecesse, todos os semelhantes o apoiavam na trama.
No primeiro romance da segunda fase machadiana é inaugurado um tempo discursivo, em que o narrador tem uma relação de cumplicidade com o leitor para que ele dê sentido à sua obra no momento da leitura, sendo assim, o leitor fica o tempo inteiro a par da disposição de qualquer espécie de sequência narrada, e justamente aqui, o romance realista de Machado usa um recurso de cunho sintático-semântico que viabiliza um estilo ousado e desafiador: a analepse.Segundo Salvatore D’Onofrio, (2001, p.100) esta, ao narrar dos fatos, inicia uma narração pelo meio ou pelo fim, e só mais tarde pelo recurso técnico-estilístico da retrospecção, o narrador informa o leitor do início dos acontecimentos.
Sem pestanejar, Machado de Assis toma a teoria da psicanálise freudiana como base fundamental para relatar a obra Memórias Póstumas de Brás Cubas, fazendo uso do recurso memorialista, pois, é o que sugere o título do romance: Memórias. Machado atende ao que Freud descobrira e acunha suas impressões no romance de alto cunho psicológico, pois Brás, dando-se por morto (o fim natural de uma história) precisa lembrar, recordar, buscar no seu consciente, e inconsciente, histórias que ele trazia com sua fútil vida. Para isto, era indispensável o uso da memória.
Quando Machado de Assis faz uso deste artifício, lembrando que isto até aquele presente momento era inédito, ele inaugura um recurso que chamamos de digressão, reforçando o que já foi dito, o autor propositalmente se afasta de seu tema no momento da narrativa para inserir fragmentos de memórias em um contexto ora em um futuro, ora presente, ora em passado, quebrando assim, a linha de pensamento.
Passou-se então a analisar romances clássicos da literatura brasileira e, ao se aprofundar mais na história do surgimento deste elemento nos romances, percebeu-se ainda que de forma maravilhosa ele (o tempo literário) acabou se tornando protagonista em determinado período histórico o qual com tanta ênfase foi aqui relatado.
Desse modo, Machado presenteia o público leitor com fiéis impressões das correntes filosóficas sem deixar de lado suas digitais singulares que ficaria como legados para futuros escritores admiradores deste grande mestre.