Sonhos de Escritos
SONHOS DE ESCRITOR
Todo o escritor, pelas características de quem transita entre e a realidade e a fantasia, trabalha com o sonho como uma das matérias primas de sua produção intelectual. No desenvolvimento dessa atividade onírica eu não poderia passar isento de tal tentação.
Qual é o sonho de todo o escritor? Ora, os sonhos de um escriba são mais ou menos os mesmos, dentro de um padrão de ambição e atitudes. Escrever, produzir obras, comercializar sua produção, obter notoriedade no mercado e por aí vai.
Dentro dessas premissas, eu sempre tive meus sonhos: produzir livros em escala internacional, conseguir vias de distribuição e divulgação, etc. Na escala da produção eu não posso me queixar. Escrevi cento e dezesseis livros, distribuídos em mais ou menos seis mil exemplares, alguns em mais de vinte edições, muitos deles publicados em vários idiomas em países de língua espanhola, francesa, inglesa e lusófona (Portugal e colônias da África).
Outra ilusão de quem escreve é participar de sessões de debates, palestras específicas, fóruns e feiras-do-livro. Recebi um sem-número de convites, viajei para muitas localidades para falar a leitores, intelectuais, estudantes sobre o conteúdo das minhas obras. Quando comecei a publicar meus trabalhos sonhava em levar meus livros às praças, autografá-los em feiras e atividades correlatas. Em pouco tempo lá estava eu nas principais feiras-do-livro como Porto Alegre, Pelotas, Canoas (onde fui patrono em 2000) e outras localidades, onde autografei por mais de uma vez.
Mas, como questiona Raul Seixas, o “maluco beleza”, depois disto eu me pergunto: e daí, é só isso? O fato é que todas essas coisas depois de certo tempo cansam e a gente cai naquela náusea a que se referiam Sartre e Camus. Embora a cabeça ainda esteja boa, há cerca de uns seis anos para cá deixei de escrever livros. Tenho ainda uns quatro trabalhos que não publiquei. Hoje me dedico mais aos artigos de jornal. Feira, então, nem pensar... dá muito trabalho! Quando me convidam para essa ou aquela feira-do-livro, faço corpo-mole e não vou.
Depois que me aposentei gasto parte do meu tempo dormindo. Minha mulher avisa fornecedores e entregadores, para justificar os telefones indisponíveis: do meio-dia à uma, almoçamos; da uma às quatro, dormimos, e depois das quatro saímos.
Nessas horas, no sono da noite e na sesta (o pelotense diz “séstia”) eu sonho muito, e quando acordo conto esses devaneios oníricos à Carmen. Ela costuma dizer que, fiel às minhas origens de escritor, meus sonhos são coerentes com minhas atividades. Todos tem começo, meio e fim.