Nunavut!

Apascenta as minhas ovelhas – focas - (João 21.16)

O vidro da janela mostra-me a chuva, que, de modo assimétrico, desce meigamente sobre viçosas flores. Estas, beijadas pelo vento, movimentam-se, exibindo um visual matizado por beleza difícil de descrever.

Em uma segunda olhada pela mesma vidraça, o reflexo das campânulas do lustre do aposento onde me encontro, deixa-se contemplar, convidando-me a aproximar-me para sentir o cheiro gostoso da natureza molhada. Não resistindo, vou até a janela e, agora mais juntinho, uma sensação de prazer invade minha alma, quando uma profunda alegria me leva às lágrimas. Esta é Nunavut!

Toronto, Canadá. Dentre outras atividades participava de um seminário da Microsoft, quando estava sendo lançado o Windows para esquimó. Tomei um susto e quis saber qual o motivo de tanto prestígio dado ao lançamento de um trabalho de tamanha complexidade para uma população, na época, de somente vinte e duas mil pessoas, número insuficiente para justificar o ROI (Return on Investment – retorno sobre o investimento). Ingenuidade minha. Estávamos em julho e, alguns meses antes, abril daquele ano, os homens da neve tinham seu território elevado à categoria do mais novo estado canadense: Nunavut, que na língua do povo do gelo significa Nossa Terra.

Atualmente o termo esquimó é considerado depreciativo. Se você for ao Ártico, caso consiga pronunciar, eles agora são chamados de “unavummiut”, digamos Nunavutenses, correto? A escrita é bonita, lembrando o “hiragana” japonês.

Quando esse povo ainda era chamado de esquimó, um missionário americano realizou uma incursão até essa terra. Seu objetivo era pregar o evangelho e esbarrou em sua primeira dificuldade, uma vez que os animais descritos na bíblia não existiam nessa grande área geográfica, quando uma iluminação fê-lo substituir o vocábulo ovelha por foca. O resultado foi excelente, tendo seu trabalho ultrapassado suas próprias expectativas.

O êxito na comunicação está diretamente ligado à forma descomplicada e sem ruído com que a mesma é feita. Dentre os muitos aspectos a serem considerados, os principais valores estão contidos em “CRAF”:

Costumes

Raízes

Aspirações

Fé

Errar na comunicação significa fazer a foca perder o próprio foco e sair bravamente atrás de você, perguntando se tem alguma notícia dele. Se não der conta, estará se arriscando a ganhar um latido glacial.

As pessoas querem e precisam ser entendidas. Se sentir em casa é o foco, o objetivo de todos. Quando seus valores são respeitados, brotam a confiança e o bem-estar, robustecendo alguma eventual tomada de decisão.

A contrapartida financeira esperada, com os novos investimentos do Canadá em Nunavut, é mais do que certa. Boa parte dos recursos estará sendo alocada à exploração de jazidas minerais de ouro, prata, diamante, gás e petróleo, onde novas tecnologias ampliarão grandemente a extração.

A ideia é que toda a sorte de necessidade de Nunavut, seja atendida. O comprometimento das políticas do governo federal com esses novos filhos, incrementará a qualidade de vida e o progresso, estimulando de forma crescente o sentido de cidadania. Não será estranho se antes de 2020, ano da culminância do projeto gelado, os nunavutenses se tornarem tão aquecidos e patriotas quanto os demais canadenses.

Sempre entendi que o hábito precedia à lei e o “dia-a-dia”, somente me cobre de razão, pois, evidentemente, após um costume se tornar próprio de uma sociedade, é que vem o reconhecimento legal.

Para comunicar-se lembre de entender os princípios do contato, os quais poderão lhe trazer um retorno positivo ou causar imprevisíveis decepções.

Então, se vamos fazer uma dinâmica de grupo, contratar um novo funcionário, atender um cliente, não só no Pólo Norte mas em qualquer lugar da terra ou do gelo, precisamos estabelecer uma relação duradoura, de consideração e respeito.

Esteja onde estiver, a boa comunicação despertará sentimentos tão agradáveis que as pessoas se deleitarão imaginando: Nossa Terra, Nunavut!