20 dez 11 Lançamento da novela A DESCOBERTA DO FRIO, de Oswaldo de Camargo

A descoberta do frio: a prosa afro-brasileira de Oswaldo de Camargo, por Zélia Maria N. Neves Vaz (excerto)*

(...) enfrentar um preconceito assim

tão extenso só poderia trazer o

inevitável autoquestionamento, o

descrédito de si e o rebaixamento

dos ideais que sempre

acompanham a repressão e

germinam em uma atmosfera de

desprezo e de ódio.

(As almas da gente negra, Du Bois)

O presente trabalho visa analisar a produção de Oswaldo Camargo referente à prosa, mais especificamente ao livro A descoberta do frio (1979). Entretanto, é inevitável, quando se examina esta obra do escritor, não pontuar, ainda que brevemente, a pouca influência da literatura afro-brasileira, atestada em seus primeiros escritos, que compreendem os anos cinqüenta e sessenta. Nesse sentido, a literatura de Oswaldo de Camargo não busca, explicitamente, já em seu início, retratar a problemática afro-descendente. Essa conduta de não valorização da negrura, verificada em suas poesias iniciais, é, indubitavelmente, o reflexo de um sujeito negro descentrado, que se autoquestiona ao se deparar com um universo ocidental dominante, preconceituoso e excludente.

Deslocado nessa sociedade etnocêntrica, que o inferioriza, o negro, por mais que objetive recorrer à sua negritude, acaba por ser sufocado pela cultura branca, assim como nos esclarece, de forma brilhante, Jean Paul Sartre, em seu ensaio “Orfeu negro”:

(...) a alma negra é uma África da qual o preto está exilado no meio dos frios buildings da cultura e da técnica brancas. A negritude toda presente e oculta o obseda, o roça, ele se roça em sua asa sedosa, ela palpita, toda distendida através dele, como sua profunda memória (...). Mas tão logo o negro se volve para encará-la de frente, ela se esvanece como fumaça, erguendo-se entre ambos as muralhas da cultura branca, sua ciência, suas palavras, seus costumes. (SARTRE, 1963: 97)

A descrição da negritude que deseja emergir da alma do negro, mas, no entanto, perde-se nestas “muralhas brancas”, nos valores hegemônicos, é um exemplo esclarecedor, quando toma-se como parâmetro a primeira fase literária de Oswaldo de Camargo. Nela, a cultura do dominador se sobressai e, dessa maneira, a herança africana, o questionamento da ordem vigente, enfim, o

empenho com a causa negra não se fazem presentes. Tais apontamentos são fundamentais para que se estabeleça um contraponto com a obra a ser analisada.

* Texto integral em: LITERAFRO - http://www.letras.ufmg.br/literafro/data1/autores/112/oswaldodecamargo02.pdf

Oswaldo de Camargo por ele mesmo: Nasci em Bragança Paulista, SP, em 1936. Dos 12 aos 17 anos estudei no Seminário Menor Nossa Senhora da Paz, em São José do Rio Preto, de onde sai em 1954. Sou herdeiro de buscas culturais de negros do País que, no início do século XX, começaram a reavaliação da situação do elemento afro-brasileiro e partiram para uma tentativa de inseri-lo social e culturalmente, tendo como armas sobretudo agremiações de cultura, jornais alternativos para a coletividade, teatro negro, a literatura, sobretudo a escrita por poetas de temática afro-brasileira, como Lino Guedes e Solano Trindade. Estreei minha carreira de poeta em 1959, época onde era diretor de cultura da Assosiação Cultural do Negro e revisor do Jornal Estado de S.Paulo, empresa onde iniciei minha carreira no jornalismo. Na prosa estreei em 1972 e em 1978 com novela. Tive, editado em 1987, pela Secretaria de Estado da Cultura O NEGRO ESCRITO - Apontamentos sobre a presençado negro na literatura brasileira. Tenho poemas traduzidos para o alemão, francês e espanhol. Em 1998, recebi, da Secretaria de Cultura de Santa Catarina, a "Medalha Cruz e Souza". Hoje sou coordenador de literatura do Museu Afro Brasil, em São Paulo.

Fonte: Blog Oswaldo de Camargo - http://oswaldodecamargo.blogspot.com/

Serviço:

A descoberta do frio - novela

Oswaldo de Camargo

Dia 20 de dezembro de 2011

Das 18h30 as 22h00

Local: BibliASPA

R. Baroneza de Itu, 639 - Santa Cecília

Próximo ao metrô Marechal Deodoro