SONETOS LUÍS DE CAMÕES

Alma minha gentil, que te partiste

tão cedo desta vida, descontente,

repousa lá no Céu eternamente,

e viva eu cá na terra sempre triste.

Se lá no assento etéreo, onde subiste,

memória desta vida se consente,

não te esqueças daquele amor ardente

que já nos olhos meus tão puro viste.

E se vires que pode merecer-te

alguma cousa a dor que me ficou

da mágoa, sem remédio, de perder-te,

roga a Deus, que teus anos encurtou,

que tão cedo de cá me leve a ver-te,

quão cedo de meus olhos te levou.

Aquela triste e leda madrugada,

cheia toda de mágoa e de piedade,

enquanto houver no mundo saudade

quero que seja sempre celebrada.

Ela só, quando amena e marchetada

saía, dando ao mundo claridade,

viu apartar-se de uma outra vontade,

que nunca poderá ver-se apartada.

Ela só viu as lágrimas em fio,

que de uns e de outros olhos derivadas

se acrescentaram em grande e largo rio.

Ela viu as palavras magoadas

que puderam tornar o fogo frio,

e dar descanso às almas condenadas.

Editora Martin Claret Ltda. – Rua Alegrete, 62 – Bairro Sumaré

CEP: 01254-010 – São Paulo – SP

Tel.: (11) 3672-8144 – Fax: (11) 3673-7146

Pedro Prudêncio de Morais
Enviado por Pedro Prudêncio de Morais em 22/01/2011
Código do texto: T2746019
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2011. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.