OBRAS COMPLETAS DO PADRE ANTONIO VIEIRA: SERMÕES
OBRAS COMPLETAS DO PADRE ANTONIO VIEIRA
SERMÕES
(15 Volumes, sendo que o Sétimo Volume contém nove Sermões sobre Santo Antônio)
VOLUME I
Prefaciado e revisto pelo Rev. Padre Gonçalo Alves
Pregador, ou S. Paulo ou Vieira
D. Luis de Sousa, e Arc. de Braga
1951
LELLO & IRMÃO – EDITORES
Rua das Carmelitas, 144 – PORTO
AILLAUD & LELLOS, LIMITADA
Rua do Carmo, 76, 80 a 84 – LISBOA
SANTO ANTONIO DE PÁDUA OU LISBOA
Deste modo inicia Pe. Antônio Vieira um dos seus nove Sermões encaixados no Vol. VII de sua obra monumental – SERMÕES – entre os quais dois foram proferidos no Maranhão.
Ouçam o-lo:
“A um português italiano, e um italiano português celebra hoje Itália e Portugal. Portugal a Santo Antônio de Lisboa, Itália a Santo Antônio de Pádua. De Lisboa porque lhe deu o nascimento, de Pádua porque lhe deu a sepultura”.
Santo Antônio nasceu aos 15 de agosto de 1195, em Lisboa, seu verdadeiro nome era Fernando Martim Bulhões; seus pais Martim de Bulhões e Tereza Taveira, e morreu em Pádua aos 13 de junho de 1231, tendo vivido 36 anos incompletos.
Almerindo Martim informa no seu livro – Antônio de Pádua – pub. FEB, que existe 39 Santos Antônio, venerados ou não pelos crentes, apenas – um, - sobreexistiu – o Santo Antônio de Pádua ou de Lisboa. Santo Antônio é festejado a 13 de junho, data aniversaria de sua morte.
O processo de canonização de Santo Antônio demorou menos de que o de São Francisco, não durou um ano, sendo instruído o processo com 53 milagres, entre os “sem conta” produzidos durante sua vida terrena e depois da morte.
Santo Antônio se oferecia sempre para executar tarefas de cozinha, e as próprias de pessoas robustas. Ele procurava esconder cuidadosamente as suas virtudes e letras. Santo Antônio compareceu a uma assembléia dos Monges (Capítulo Geral) à qual São Francisco devia presidir, e seria constituída de 3.000 frades. Acabado o Capítulo repartiram-se os Prelados os cargos e equipes por todas as Províncias da cristandade; mas Santo Antônio ficou só, enjeitado e desestimado, porque os religiosos não sabiam quantas virtudes e saber continha Santo e soubessem todos queriam levá-lo consigo.
Finalmente, Santo Antônio houve que falar num grande encontro de prelados, porque os vários pregadores de grande raciocínio se recuaram sob alegação não estavam preparados para o evento. Santo Antônio por ser pouco notado na Congregação, deram-lhe a incumbência de preencher o espaço. Acabada a sua falação, todos ficaram pasmados diante de tanto saber. A partir desse encontro sua fama de pregador eminente se propagou por toda a cristandade. À semelhança de Cristo, a multidão corria para ouvi-lo, e falava nos campos e lugares abertos. Certa ocasião quarenta ladrões que tinham por costume matar as suas vítimas, foram ouvir o Santo Antônio por curiosidade e deboche. Acabada a pregação se converteram e tornaram-se seguidores do Santo.
Jesus disse – “Aquele que crê em mim também fará as obras que faço, e as fará maiores do que estas; porque vou para meu Pai” – mostrando, assim, a sua união com Deus.
Para confirmar essa promessa de Cristo Senhor Nosso, Pe. Antônio Vieira dedica um dos seus longos sermões aos milagres de Santo Antônio, comparando-os com os milagres de Jesus Cristo. Nesta oportunidade, tiraremos alguns exemplos da obra citada, com indicação ao final das páginas, e sempre que possível com as próprias palavras do autor.
Quando Cristo vivia neste mundo, corriam a Ele, como fonte de saúde, todos os enfermos tocavam ao Senhor, e ficavam sãos. Morreu Santo Antônio tal dia como hoje, e com o mesmo prodígio, todos os enfermos que tocavam o corpo, imediatamente cobravam a saúde. Grande maravilha, que obrasse o corpo de Antônio morto, o que obrava o corpo de Jesus vivo. (pág. 128)
Desejou uma senhora ir ouvir a Santo Antônio que pregava no campo; mas não lhe deu licença o marido. E que sucedeu? Sem sair de casa; ouviu o Sermão tão distintamente como se estivesse ao pé do púlpito não só a mulher mas também o marido ouviram o Santo. (pág. 130)
Era um cego de seu nascimento, fez Cristo um pouco de lodo com os dedos de poz-lho no lugar dos olhos, mandou-o lavar à frente de Siloe e curou a vista. Ia uma senhora ouvir Santo Antônio, era inverno: caiu no lodo. Disse-lhe o Santo que se levantasse e estavam os vestidos tão limpos e asseados, como quando saíram do guarda-roupa. Nunca se viu tão limpo milagre. (pág. 132)
Matou-se um homem em Lisboa, acusaram ao pai de Santo Antônio, sem culpa, e condenaram-no a morte. Estava Santo Antônio pregando em Pádua, ao mesmo tempo apareceu no adro da Sé em Lisboa e disse: neste adro (terreno em frente ou ao derredor da Igreja) será sepultado o morto, diga ele mesmo, se o matou esse homem. O morto levantou-se da sepultura e disse para os juízes que não era o pai do santo quem o matou. A Justiça determinou que descobrisse quem era o matador; mas Santo Antônio não o consentiu. Desapareceram o Santo e o defunto, ficou livre o inocente. Prossegue Vieira: o caso da ressurreição de Lázaro todos sabem. Comparemos um com o outro, e teremos que onde Cristo fez um milagre, Santo Antônio fez seis e maravilhosos sem conta... (pág. 133)
Duas vezes estava Santo Antônio pregando, quando lhe ocorreu que tinha naquela hora obrigações de ofício no côro de sua Religião, e inclinando-se sobre o púlpito, como quem dormia, no mesmo tempo foi visto e ouvido no côro cantar o que lhe tocava. Também estava outras duas vezes pregando na Itália, quando seu pai em Lisboa se viu em dois grandes trabalhos, um de fazenda, outro de vida. Tornou-se a inclinar sobre o úblico o milagroso pregador e piedoso filho, e no mesmo tempo apareceu ao lado do pai, defendendo a sua inocência. (pág. 232, Volume Sete, Pe. Antônio Vieira)