O franguinho caipira do Veloso
A povoação do Veloso, distrito do município de Pitangui, MG, compõe-se de umas 4 aglomerações que reúnem cerca de trezentas pessoas. Distingue-se dos demais povoados por um bom número de razões, além das suas ainda mais agravadas agruras econômicas: tem suas origens e feitio ligados essencialmente ao Brasil escravocrata que, contrariamente ao que apregoa a lendária Lei Áurea, não se encerraram com o canetaço da Princesa Isabel. Um bom apanhado dessa penosa trajetória pode ser colhido e apreciado na obra singular e, a meu ver, fundamental, de Ricardo Welbert, Tão longe, tão perto, A vida nos povoados de Pitangui, publicada pela Comunicação de Fato Editora, BH, 2015.
Já ao ver descerrar o estertor de seu segundo mandato como Alcaide da cidade, filho da terra, o Mendes, homem digno, esclarecido e totalmente empenhado na humanização do desenvolvimento do município, num esforço de promoção do turismo receptivo, numa reunião com agentes públicos e privados empenhados na consecução dessa atividade, em oportunidade em que se inauguravam no referido povoado uns galpões destinados à criação e ao abate de aves, chegou a enfatizar que importantes eventos internacionais, como a Copa do Mundo de Futebol, de 2014, e as Olímpiadas, de 2016, logo teriam lugar no Brasil, expondo a grande nação sul-americana ao mundo esportivo, e por consequência cultural, folclórico, antropológico, e tal.
E nesse contexto - prosseguiu o Prefeito em sua entusiástica fala - estava ali a grande chance de redenção do Veloso, ao olhos atentos dos circunstantes, e do mundo, sob o seguinte raciocínio: como Belo Horizonte sediaria marginalmente algumas contendas, o turista estrangeiro, entre uma e outra disputa esportiva, quiçá desinteressado de visitar lugares já bem manjados como Ouro Preto, Mariana, ou Sabará, por exemplo, podia bem redirecionar seu interesse para a tricentenária Pitangui, também brava Vila do Ciclo do Ouro e, após um tour pela Cruz do Monte, pela venerável igreja de São Francisco, e um gole da refrescante água da Mina da Lavagem, dar uma esticada até o Veloso para, após saborear uma boa dose da Cristalina do Picão, ou da Ligurita, pegar aquele franguinho caipira ao molho pardo...
A boca dos velosenses, pouco acostumada a essas iguarias, e até mesmo ao feijãozim com arroz de dia talvez dia não, sem mágoa, ainda se enche de água...