A MULHER NA CAPOEIRA

A MULHER NA CAPOEIRA

"Dona MARIA DEVAGAR" /

mata boi sem segurar... (...)

ela bebe, joga e fuma, /

ela "brinca" Capoeira" !

(pagode tradicional)

Se o leitor (e as leitoras) pensa que sou especialista "no assunto", pode parar por aqui ! São apenas "palpites", conclusões mal ajambradas, simplesmente porque em quase 50 ANOS de observações -- somados os tempos não dá nem ano e meio -- poucas vezes vi mulher jogando ! Nos anos 70, na academia de mestre 'Peixinho" tinha duas, excelentes jogadoras, 3 três no máximo. Não sei se Rosália, irmã de Flavinho e Eduardo e "cheia de disposição", "desceria a Ladeira" para se incorporar ao Grupo Senzala. No Morro do Pavãozinho naquela época (1973/74) "reinava" mestra "Sandrinha", que diziam ser "segurança de Presídio". Era preciso coragem para isso ! Meu irmão, a meu lado, diz ter visto no CEU - Casa do Estudante Universitário um grupo de moças "canadenses" -- brancas, louras, jogo marcial -- em Roda ou aula de mestre "Camisa" que, enquanto o acompanhei (1975/77) não teve alunas, nem mesmo no Clube Guanabara, do qual me fiz sócio só para apreciá-lo.

2 SÉCULOS e meio se foram, mais de 200 ANOS depois e nossa Capoeira continua um "Clube do Bolinha", a mulher sendo ensinada "mais ou menos" para não humilhar a "homarada". Com mestre "Peixinho" não tinha esse problema: as jovens "faziam suar" quem não aprendera direito... ou sabia de menos ! Houve tempo em que mulher na Capoeira era confusão em dobro: ou os "gaviões" todos "se engraçavam" com a moçoila -- o mestre à frente -- ou sucedia o inverso, o machismo imperava e a jovem era tratada "quase a pontapés". Se surgia uma parceira, a antiga "paparicada" via nela uma rival e a "porrada comia solta"... quando jogavam. Vejo agora na Internet excelentes mulheres "capoeiras", mas não me iludo... pode ser "jogo de compadre", jogo combinado, treinado várias vezes e, das filmagens todas, selecionam a melhor.

Nos anos 80, no Rio, surgiriam outros nomes femininos, porém eu já não estava mais na cidade e não as conheci. Meu irmão ("Leiteiro") foi amigo de uma certa Sueli que era dançarina e "capoeira" e que, tempos depois, se casaria com o famoso desenhista Ivan Wash Rodrigues. Da Zona Norte, ninguém... pelo lados da Bahia haveria uma certa "Janja", que seria aluna de mestre Morais, contudo o estilo Angola, por suas nuances, quase impede um julgamento amplo das qualidades de um jogador. Mestra "Cigana" se diz a mais antiga mestra do Brasil... a meu ver, se não pratica também a Capoeira Regional, fica na situação de "meia Mestra" ou, nesse caso, de "mestra de Angola". Me parece que, muito antigamente, havia MAIS MULHERES... só não sei se jogavam ! Segundo o folclore, "Maria DOZE HOMENS" entrou num bar -- precisava muito coragem para isso -- e BATEU nos 12 "frouxos" que protestaram contra a presença dela.

Mais uma vez, conforme meu irmão, antiga só mesmo SUELI COTA (?!) e, nos anos 80, agora como Grupo ABADÁ, existiu uma pequena Letícia que, dizem as "fofocas" daqueles tempos, "teria pago" pelo que os "marmanjos" cariocas aprontaram em Salvador. Vendo o "peixe" como comprei... assistindo fita VHS -- de um Batizado de mestre "Canjiquinha" -- em casa de FÁTIMA COLOMBIANO, a renomada "Cigana" êle a viu ser espezinhada por cantar uma Ladainha "meio fora do compasso". O espaço DA MULHER NA CAPOEIRA continua pequeno, contudo praticantes como a "professora MINHA VELHA" e Grupos como o de "mulheres LGBT" estão "mudando essa cantiga" ! (NATOAZEVEDO - em 17/março 2021, 13hs)

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EM TEMPO: (adendo, 18/março) Dei o assunto por encerrado ontem (17/3) mas percebo que "falta um pedaço" (epa!) a esclarecer, antes que me chamem de machista. Por volta de 1995/96 em Belém o então professor do Grupo "EU, BAHIA" Nilton Caldas surgiu na Praça da República com um Grupo "só de garotas" entre 13 e 16 anos, por aí, todas jogando bem. A capital do Pará vivia "isolada" do restante do país, porém quero crer que isso tenha sido algo INÉDITO em termos de Brasil ! Declaração a ser confirmada... ou contestada ! Com minha ressalva: a primeira MESTRA de Belém conheci por acaso, quando circulava no Comércio, área de visitação turística, por volta de 1991. Bateram no meu ombro, me virei e uma morena de 1,60 cm, traços indígenas, me perguntou sorrindo:

-- "Lembra-se de mim ? Sou a mestra NAZARÉ" !

Pra azar dela eu recordava... era do SESC-Doca, treinava pouco, quase não comparecia às aulas. Certa noite, na quadra, o professor "Abíu" (ou "Abil", ninguém sabe ao certo), excelente instrutor e ótimo "capoeira" "emputeceu-se", após chamar os alunos para início do treino. "Sobrou" para 5 ou 6 donzelas tagarelas... a expressão não foi das mais felizes !!! "Abíu" seria feito mestre uns 20 anos depois, de forma estranha e desnecessária -- TODOS o viam como MESTRE -- e largou o ensino após um Batizado (em 1990, creio eu) que findou em cadeiradas & pontapés, me parece que por confusão entre um irmão do "Bira" e um outro "capoeira", não sei se do SESC. Dessas antigas andanças ficou a certeza de que o Grupo "Dandara Bambula" foi onde havia maior número de mulheres treinando, quase a metade dele.

"NATO" AZEVEDO (em 18/março 2021)

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OBS: (*1) - "Cigana" pode ter sido feita Mestra por "Canjiquinha", somente ela poderá dizer quando... mas se foi de forma oficial, a FPC/SP só foi fundada em 1974 e a "Carioca" apenas em 1984. Portanto, mestra SANDRINHA será considerada a mais antiga, isso na forma tradicional.

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A quem interessar, meu irmão produziu algo com o mesmo tema: "EU E AS AMAZONAS"... acessar LEITEIRO ***

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