Sociologia do Futebol: O mistério do 7 x 1
Algo a se pensar. O que levou uma seleção composta de jogadores caríssimos, atletas de times conceituados no exterior, a apresentar um resultado típico de "pelada" em campos de várzea?
O psicológico? Mas este psicológico não nos impediu de conseguir o pentacampeonato mundial. Não é um mal da seleção brasileira, pelo menos constante não. Houve algum drama interno, como a daquela Copa em que o jogador Ronaldo passou mal no jogo decisivo contra a França?
A ausência de Neymar no jogo teria abalado tanto esta seleção? Foi construída em torno deste jogador um carisma ou uma promessa que compensava alguma deficiência na nossa seleção? Marketing teve e muito.
Os craques decepcionaram em outras seleções. Não vimos grandes desempenhos nas suas seleções como vimos nos times europeus. Seria as verdadeiras seleções campeãs aqueles times caríssimos montados por Real Madri, Barcelona e outros? Eles montariam times mais poderosos que qualquer seleção do mundo?
As seleções mundiais funcionam com base no carisma. Que envolvem símbolos nacionais e patriotismo. A relação entre a seleção brasileira e auto-estima de seu povo é um caso extremo do que ocorrem em outros países.
Não dá pra comparar os prêmios pagos pelas seleções, com os contratos caríssimos que envolvem produtividade do jogador e alto desempenho para que sejam renovados. Os times europeus são extremamente capitalizados. Paguem muito bem, mas a custa de muita cobrança e investimentos em treinamento e disciplina em jogo.
Os jogadores brasileiros selecionados no estrangeiros se habituaram com a lógica da pressão capitalista por produtividade que infelizmente parece não ter sido articulado com nosso carisma: onde questões ethos não dialogam com lucro, como acontece com os americanos.
O que implica que a seleção brasileira precisa se organizar tendo em conta que o carisma é uma fonte importante de motivação no futebol, assim como a estrutura de investimentos. Seleções dificilmente funcionarão tão bem com a lógica do futebol como a empresa como funcionam os times. Não há recursos financeiros para isto e nem disposição suficiente.
Sem que se articule a lógica de produção que estes jogadores estão acostumados nos times estrangeiros com o carisma do futebol não terão forças suficientes para concorrer com outras seleções.
Infelizmente, Neymar era a fonte deste carisma. Era o amuleto que fazia a seleção acreditar que seria capaz de enfrentar os desafios e os seus limites - na pressão de se disputar uma copa em casa e diante de tantos protestos pelos gastos com infraestrutura.
A mídia contribuiu para esta construção, como contribui para a construção do Ronaldo naquela copa em que perdemos para a França o título. O Ronaldo passou mau e a seleção parecia ter perdido seu espírito.
Será que aprenderemos com a Alemanha a construir seleções como organização coletiva, tanto em sentido tático quanto no sentido carismático - que dá o sentido a disputa e ao empenho, quando a grana não fala mais alto?
Veremos!